São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994
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Eleitor de Enéas tem perfil conservador;Integralismo

MAURICIO PULS
DA REDAÇÃO

Eleitor de Enéas tem perfil conservador
Pesquisa Datafolha indica que o eleitorado de Enéas Carneiro manifesta forte rejeição aos partidos e despreza o voto –elementos essenciais do regime democrático.
Essas taxas só são superadas entre os eleitores que vão votar nulo ou branco (82% não têm preferência partidária e 83% não votariam se isso não fosse obrigatório).
A correlação entre o voto em Enéas e a rejeição ao sistema partidário também aparece em outras respostas: 12% votarão nele "por falta de opção", 8% preferem Enéas porque ele vai perder e 4% votarão nele por "protesto".
Seu eleitorado é bastante semelhante ao que votou em Fernando Collor em 1989. Os simpatizantes do Prona dizem que votarão em Enéas "para experimentar o novo" (21%) e porque ele "é o mais honesto/não é corrupto" (19%).
Pesquisa Datafolha de abril de 1989 sobre os motivos do voto em Collor mostrou que seus simpatizantes votavam nele por suas "idéias novas" (38%) e "para experimentar algo novo" (30%).
Essas tendências indicam que o eleitorado de Enéas tem um perfil autoritário, similar ao dos partidos de extrema-direita, que criticam as instituições democráticas.
Integralismo
Este era o caso da Ação Integralista Brasileira (1932-1937). Pesquisa de Hélgio Trindade revelou que 85% dos integralistas achavam que os partidos e o voto eram elementos que "dividiam a nação".
No integralismo, assim como em outros movimentos de extrema-direita, todo o poder era centralizado no chefe (Plínio Salgado), cuja personalidade era objeto de culto entre os militantes.
Na pesquisa de Trindade sobre o carisma do chefe, os integralistas valorizavam sobretudo suas qualidades retóricas (67%) e suas qualidades intelectuais (48%).
Os adeptos de Enéas também atribuem ao seu líder numerosos atributos intelectuais.
Os simpatizantes do Prona também mostram a mesma distribuição regional das bases do extinto Partido de Representação Popular (1945-1965), de Plínio Salgado.
Em 1962, o PRP elegeu apenas cinco deputados –três no Sudeste (SP, MG, ES) e dois no Sul (RS e PR). O eleitorado de Enéas também mostra elevada concentração no Sudeste (60%) e Sul (14%).
A tendência conservadora transparece também no perfil social de seus simpatizantes. Enquanto a maioria do eleitorado brasileiro tem renda familiar até cinco salários mínimos (56%) e escolaridade até o 1º grau (67%), o eleitorado de Enéas mostra uma elevada concentração entre os eleitores com renda superior a cinco salários (59%) e com o 2º grau ou nível superior (48%).
É a mesma base social dos partidos fascistas europeus, que recrutavam a maioria de seus adeptos entre as classes médias. No caso do Brasil, é o mesmo perfil do eleitorado do candidato do PPR (57% de eleitores com renda acima de 5 salários, 47% de eleitores com 2º grau ou nível superior).

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