São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994
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Nem tudo são flores

MARCOS CINTRA

O Plano Real já começa a enfrentar desafios. Não foram feitas as reformas estruturais. Assim, a sociedade não entende que o plano seja uma efetiva e duradoura mudança no regime fiscal e monetário.
Nada mudou nas bases da economia. Houve apenas uma coordenação de preços pela URV e a substituição da moeda. Só a eliminação do componente inercial da inflação. Suas causas estruturais perduram.
A área cambial é um foco de preocupações. O Banco Central adotou política de privilegiar o controle da expansão monetária e, portanto, não pode sustentar a cotação interna do dólar.
Para evitar a valorização do real, o governo precisaria comprar divisas e expandir a base. Preferiu não intervir. O resultado está sendo dramático.
As exportações ainda garantem superávits comerciais, mas os atrasos cambiais irão abalar a competitividade dos produtos brasileiros de exportação. Os saldos comerciais ainda são positivos. Mas se devem a contratos fechados antes do plano.
Por outro lado, a movimentação cambial financeira, mas ágil, despencou. O saldo médio diário caiu de US$ 13,5 milhões em junho para US$ 26,8 milhões negativos em julho. Deve ser negativo em agosto.
Agrava o conflito o fato de que a expansão da base monetária já atingiu em agosto o limite legal de US$ 9 bilhões previsto até 30 de setembro. Não dá mais para o governo administrar o câmbio sem estourar as metas monetárias.
Restam as providências acessórias para atenuar a crise cambial, como isenções fiscais. A deflação seria remédio amargo demais em ano eleitoral.
Também na área salarial há desafios. Prevê-se a correção de 11% nos salários em setembro. Como evitar impacto na inflação? Com moeda estável não há como aguentar aumentos da folha desta magnitude.
E, se concedidos sem repasses, o que acontecerá com a demanda agregada, cuja expansão já começa a preocupar? Há capacidade ociosa generalizada, mas poderão surgir estrangulamentos setoriais.
O Plano Real precisa de administração desses focos de tensão. E das reformas estruturais. Urgentemente.

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