São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994
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Segundo aniversário do real preocupa

DA "AGÊNCIA DINHEIRO VIVO"

O saldo do segundo mês do Plano Real não é animador. Parte do mercado iniciou a revisão das expectativas otimistas que vigoraram na primeira quinzena de agosto.
Começa a ficar inquieta com a combinação de fatores adversos. O temor é de que eles impeçam a vitória de FHC no primeiro turno.
Nem politicamente há motivos de comemoração. Recentes pesquisas mostram que a vantagem de FHC sobre Lula, embora expressiva, não é suficiente para garantir a vitória em 3 de outubro. O dado mais significativo é o crescimento de Orestes Quércia, do PMDB.
O que o mercado mais teme é o segundo turno, em 15 de novembro. Não se sabe o que pode acontece até lá com o plano.
O primeiro fator de intranquilidade é o estouro da meta de expansão monetária. Tecnicamente, não há motivos para preocupações, já que ele não resultou da emissão de reais para cobrir déficit público nem para a aquisição de dólares.
Mas há mais dinheiro em circulação, o que pode representar pressão sobre os preços em momento de aquecimento do consumo.
O segundo é a inflação. As novas previsões são de um IPC-r de agosto em torno de 6%. O mercado iniciou o mês estimando 2%. Depois, as apostas passaram para o patamar entre 3% e 3,5%. Rapidamente alcançaram o degrau de 4% a 4,5%. E na sexta-feira a suposição passou a ser de 6%.
Frente a esse número, tanto o over quanto o CDI, com rentabilidade de 4,18% no mês, mostrarão juro real negativo.
O grande investidor talvez não se sinta desconfortável com essa perda frente à inflação, já que comparativamente às taxas ponta-a-ponta haverá bom juro real.
Mas o poupador não deve entender a perda de sua caderneta. Isso, mais a monetização acelerada, coloca uma sombra sobre a inflação de setembro. Não há mais a certeza anterior de uma queda abrupta dos índices para o mês que vem.
Nos seus fundamentos essenciais, o Plano Real envia sinais preocupantes. Foi atado a três âncoras: a monetária, a cambial e a salarial.
A monetária está sendo solapada por duas péssimas escolhas da equipe econômica, resultado do excesso de confiança: de fixação de metas de emissão de moeda e do IPC-r como índice oficial de inflação.
A âncora cambial é igualmente imperfeita. A valorização do real é fictícia, sem fundamentos macroeconômicos.
Criou-se uma superexpectativa sobre uma virtual compra de dólares pelo BC, de tal tamanho que, se comprar –uma intervenção perfeitamente normal em qualquer lugar do mundo–, fará soar trombetas apocalípticas.
A âncora salarial está ameaçada pelo IPC-r. As categorias com data-base em setembro começam as negociações com um índice de 12% na mesa, um meganúmero impensável numa economia estabilizada.

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