São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994
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Real terá batismo de fogo em setembro

VIVALDO DE SOUSA; LUCAS FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Plano Real vai ter em setembro o seu principal teste desde que a nova moeda começou a circular, em 1º de julho. As principais preocupações da equipe econômica são as pressões pela reindexação dos salários e o aumento do consumo.
Outro possível problema na administração do Plano é o efeito psicológico do aumento do salário mínimo sobre os preços. O mínimo passa de R$ 64,79 para R$ 70,00 e será pago em outubro.
"O salário mínimo é uma grande referência para a iniciativa privada", disse Juarez Rizzieri, coordenador da Fipe-USP (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
As categorias com datas-base em setembro –químicos, bancários e petroleiros, por exemplo– devem ter um reposição automática de 11,3% em setembro, que é o IPC-r de julho (6,08%) e o esperado para agosto a ser divulgado esta semana (em torno de 5%).
"As negociações vão começar e terminar nisso (11%)", disse à Folha o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Clóvis Carvalho. No setor público federal, a ordem é conceder apenas o que determina a lei. Ou seja, repor apenas as perdas com base no IPC-r.
No caso do setor privado, Carvalho afirmou que não acredita em reajustes superiores. Mesmo assim, o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, determinou a José Milton Dallari, seu assessor especial, para acompanhar os acordos salariais.
Além da preocupação com a reindexação, o governo quer evitar repasse para os preços de aumentos reais (descontada a inflação) de salários concedidos pelas empresas.
Apesar do aumento de 41,7% no consumo de bens duráveis na primeira quinzena de agosto, quando comparado com março, o governo ainda não se decidiu por adotar medidas de restrição ao crédito. "Estamos ocupados e não preocupados com isso", afirmou Carvalho.
O consumo aumentou mais entre as pessoas de baixa renda. Nos supermercados, por exemplo, as vendas em agosto tiveram crescimento de 22%. Nos supermercados da periferia, as vendas ficaram, em média, 10% acima das vendas nas lojas dos centros e bairros mais nobres.
É exatamente no comércio da periferia que pode ocorrer reajuste de preços em função do aumento do salário mínimo. Para sancionar eventuais aumentos, o governo conta com o consumidor. Isto é, espera que ele pesquise antes de fazer suas compras.
Preocupado com o aumento do consumo, Ricupero deve fazer pronunciamento em cadeia de rádio e televisão depois de amanhã para pedir à população cautela nas compras a crediário. Seu argumento é que tem comerciante cobrando juros muito elevados.
O BC já decidiu dar incentivos às cadernetas de poupança para evitar fuga de recursos da caderneta de poupança.
O redutor usado no cálculo da TR vai cair de 1,4% para 1,2%. Com isso, o rendimento da caderneta de poupança ficará mais atraente.

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