São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994
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Maracanã transpira Mengo por seus poros

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Mesmo na maior draga, o Flamengo é sempre Flamengo, como nos versos de Lamartine, o Babo, não o francês. Ainda mais jogando no Maracanã, o templo do futebol da era moderna, que transpira Mengo por todos os poros de seu concreto gasto de tantas emoções.
E põe draga nisso. Pois o atual time flamenguista talvez só se equipare àquele de Berico e cia., lembram-se? E o mais doído é que se sairmos por aí catando aqui e ali craques espalhados pelo Brasil e pelo mundo, nascidos, criados e projetados na Gávea, teremos uma seleção tetracampeã. Aí estão os Zinhos e Leonardos da vida para comprovar o que digo.
É inconcebível que um clube como o Flamengo, que soma tradição à maior torcida do Brasil (talvez seja o único caso que se pode dizer de um clube de torcida brasileira, já que Flamengo brota em cada grotão deste país, mesmo passados quase meio século do auge da Rádio Nacional, a quem se atribuía a disseminação de sua marca), viva há tanto tempo na penúria.
O Velloso, seu presidente, com quem tive agradáveis tertúlias durante a Copa, me parece um jovem competente e bem intencionado. Por isso, se vale um conselho de amigo, aí vai: já que o Flamengo, por misteriosos desígnios, não consegue empolgar um patrocinador do tipo Parmalat, que fez do Palmeiras um campeão da noite pro dia, nem é capaz de montar uma sequência de administrações sólidas e bem gerenciadas, por força da paixão avassaladora que caracteriza os clubes de massa, como o São Paulo, a única saída é contratar um treinador reconhecidamente habilitado para trabalhar, a longo prazo, com carta branca, lançando e lapidando os garotos-craques semeados na Gávea.
Nos tempos modernos, cito dois exemplos que deram certo: Fleitas Solich, com seus Paulinhos, Babás, Zagalos, Índios, Henriques e Didas, e Cláudio Coutinho, com seus Adílios, Titas, Júniores, Leandros, Andrades etc.
Quem? Não sei. Isto é, sei. O ideal seria Telê, que tem paciência e talento para essas coisas. Mas Telê já está noutra esfera. Quem, então? E é nessa procura que se percebe a escassez de verdadeiros treinadores neste país. Mas, se vira, meu!

Comparando com os cariocas, o Corinthians, se é, emocionalmente, o Flamengo daqui, resolveu agir como o Vasco. Não se sabe bem de onde brota essa grana toda, o fato é que o Corinthians vai montando um esquadrão. Meio envelhecido, é verdade, mas compatível com as atuais circunstâncias. Afinal, precisa quebrar já a hegemonia palestrina, dentro de casa, e, quem sabe, aproveitar-se do vacilo tricolor, para expandir mundo afora suas ambições.
Mas, hoje, mesmo que possa contar com Luisinho, na cabeça-de-área, e Branco, na lateral, mesmo assim, não vale para se aquilatar a real dimensão de sua força. Afinal, o pessoal está sendo apresentado ainda uns aos outros, e o que conta é a partir da fase seguinte.
Além do mais, é a velha história: lá, no Maracanã, o Flamengo, na maior draga, é sempre Flamengo.

O São Paulo, que foi uma vergonha com seu time titular diante do Vélez, pode ter Alemão, nos reservas. Já é alguma coisa. Quanto a Sierra, que no campo, vestindo a camisa do Unión Espa¤ola, parecia um líder, senhor da bola e dos espaços, ao chegar, revelou-se um menino tímido e contido.
Mas, não se assuste, tricolor amigo. Afinal, Dario Pereyra levou quase um ano para vencer seus problemas de adaptação no São Paulo. Depois, transformou-se simplesmente no maior quarto-zagueiro da história tricolor.

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