São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Coquetel de vitaminas salva nervo

CLÁUDIO CSILLAG
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

Uma combinação de dois fatores neurotróficos –espécie de "vitaminas" pouco conhecidas essenciais às células nervosas– conseguiu impedir a progressão de duas doenças neurológicas importantes em animais de laboratório.
Um artigo publicado esta semana na revista "Science" mostra que camundongos que nascem com deficiências semelhantes às apresentadas por portadores da esclerose lateral amiotrófica (ou doença de Lou Gherig, a que acomete o físico britânico Stephen Hawking) e da atrofia muscular espinhal não ficam debilitados se recebem doses dessas vitaminas.
As duas doenças são provocadas pela morte de células nervosas, ou neurônios, envolvidos na transmissão de impulsos elétricos às células musculares.
Sem receber impulsos nervosos, os músculos não se movimentam e vão definhando (ou atrofiando). É um processo crônico, em que o doente vai perdendo a força muscular geralmente nas mãos e, a seguir nos braços e ombros.
As duas doenças, que não tem cura, têm origens variadas e não identificadas, embora ambas tenham uma causa genética. Mas a importância da descoberta de Hiroshi Mitsumoto, da Fundação Clínica Cleveland, em Ohio (EUA), não depende da causa do distúrbio.
"Achamos que os fatores neurotróficos evitaram que células fossem destruídas porque eles aumentam a capacidade de regeneração delas", disse Mitsumoto à Folha.
Ou seja, os dois fatores neurotróficos –chamados de fator neurotrófico ciliar e fator neurotrófico derivado do cérebro– atuaram como vitaminas antioxidantes, combatendo "radicais livres" – as diversas causas que contribuem à morte dos neurônios.
A descoberta é importante, porque abre linhas de pesquisas para combater vários distúrbios em que a morte de neurônios está envolvida, incluindo a doença de Alzheimer e o mal de Parkinson.
"Mas estou interessado principalmente na morte dos neurônios motores", disse Mitsumoto.
Neurônio motor (veja ilustração ao lado) é o que transmite o impulso nervoso até o músculo, fazendo-o contrair.
Pacientes com pólio, por exemplo, têm neurônios motores lesados. O coquetel de vitaminas nervosas pode, um dia, ser útil a eles, assim como a pessoas que perdem nervos devido a traumatismos, alcoolismo, toxinas e várias doenças degenerativas.
"Esperamos que os fatores neurotróficos dêem proteção ou desaceleram degenerações nervosas", disse Mitsumoto.
A descoberta é importante também porque mostra que essas vitaminas nervosas podem conferir proteção quando, sozinhas, não surtem efeito.
Os fatores neurotróficos são produzidos naturalmente no corpo humano por estruturas vizinhas aos neurônios em que atuam.
Por causa disso, desde que a pesquisa sobre eles explodiu, na década de 80, acreditava-se que vários fatores neurotróficos –conhecidos por siglas parecidas entre si, como NGF e FGF– desempenhavam cada um uma função específica nas células. O problema é que os pesquisadores não conseguiam resultados animadores com eles isoladamente.
"Agora, com a eficácia dessa combinação, surgirão novas experiências", disse Rae Nishi, da Universidade de Ciências da Saúde de Oregon (EUA), que escreveu um comentário sobre a pesquisa na mesma edição da revista. "O campo", diz ela, "está entrando numa época muito empolgante".

Texto Anterior: Diversidade de um profeta
Próximo Texto: ARMA CONTRA A MORTE DOS NERVOS
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.