São Paulo, segunda-feira, 29 de agosto de 1994
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Balé da Cidade luta para se reconstruir

Companhias do país também enfrentam dificuldades

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

São Paulo continua sem o Balé da Cidade (BCSP). A situação pouco evoluiu desde o dia 6 de agosto, quando o elenco resolveu não realizar o espetáculo que iniciaria mais uma temporada no Teatro Municipal, como protesto contra o constante atraso no pagamento dos salários.
A manifestação rendeu a demissão dos 26 bailarinos que trabalham sob contrato de prestação de serviços. Outros dois, efetivados como funcionários públicos, foram suspensos.
Na noite de estréia, os bailarinos chegaram a comprar ingressos para entrar no teatro e explicar a situação aos espectadores já presentes na platéia.
O público aplaudiu e a maioria parece ter se conformado em assistir somente à Orquestra Experimental de Repertório, que deveria acompanhar o Balé e decidiu tocar, mesmo sem bailarinos.
Quem realmente não gostou foi o prefeito Paulo Maluf que, junto com o Secretário Municipal da Cultura, Rodolfo Konder, acabou extinguindo, pelo menos temporariamente, a companhia fundada em 1968 e com uma história repleta de interrupções, provocadas por situações semelhantes.
Basta lembrar que, em 1988, o prefeito Janio Quadros proibiu, por tempo indeterminado e sem explicar o motivo, que o Balé da Cidade se apresentasse fora da capital (assim como os demais corpos estáveis do Município, o Coro e a Orquestra Sinfônica).
Na época, explicações não oficiais justificavam que a atitude do prefeito devia-se a um acidente ocorrido em Americana, quando músicos, cantores e orquestra caíram num fosso após o desabamento do palco.
No momento, o elenco do BCSP aguarda novas decisões do prefeito e da Secretaria de Cultura. "Quando houve o atraso de pagamento, o elenco estava acompanhando nossos esforços para melhorar a situação. Por isso, a atitude dos bailarinos nos surpreendeu", explica Konder.
Segundo Konder, o elenco se precipitou ao optar pela greve e criou uma situação de confronto. "A administração, para preservar o princípio de autoridade, não teve outra saída senão demitir, embora tenhamos lamentado", diz o secretário.
Duas possibilidades estão sendo estudadas pela Secretaria: recompor o Balé da Cidade com outros bailarinos ou reconsiderar a situação do ex-elenco e receber todos de volta. Por enquanto, ninguém sabe dizer quando haverá uma definição.
Se a decisão demorar demais, será impossível realizar os espetáculos programados até o final do ano. O próximo deveria estrear em 23 de setembro, com apresentação de uma nova coreografia criada por Guilherme Botelho – ex-bailarino do Balé da Cidade que saiu do Brasil em busca de melhores condições de trabalho na Alemanha.

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