São Paulo, segunda-feira, 29 de agosto de 1994
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Leny canta samba em ritmo de bossa

SYLVIA COLOMBO
DA REDAÇÃO

A cantora Leny Andrade lança no próximo mês o CD "Coisa Fina". O disco foi gravado em Nova York e tem a participação do violonista carioca Romero Lubambo.
É o primeiro álbum gravado pela cantora desde que se mudou para os EUA, há um ano. Seu último trabalho foi o disco "Nós", com César Camargo Mariano.
Uma das maiores cantoras de bossa nova do Brasil, Leny nunca tinha gravado um disco com violão e voz.
Leny concedeu entrevista à Folha por telefone, algumas horas antes de se apresentar no Lincoln Center, em Nova York.

Folha - "Coisa Fina" é um trabalho nostálgico?
Leny Andrade -Não considero muito nostálgico. Na verdade tenho horror à nostalgia . As músicas "Nostalgia da Bossa" e "Esses Moços" são saudosistas, mas o disco é alegre. Tem 90% de samba.
Folha - Você está há mais de um ano longe do Rio de Janeiro. Seu saudosismo vem desta separação?
Leny Andrade -Sim. A música "Saudades da Guanabara" fala das minhas de saudades da Guanabara da época de Carlos Lacerda. É uma letra que todo carioca gostaria de dizer hoje.
Folha - Como você selecionou o repertório?
Leny Andrade - "Coisa Fina" resgata coisas boas que ficaram para trás na música popular brasileira. A mania de privilegiar uma música de cada disco encobre o trabalho dos intérpretes. "Flor de Lís" de Djavan, por exemplo, encobriu "Embola Bola" e "Muito Obrigado", que gravei no disco.
Folha - Como surgiu a idéia de gravar um disco apenas com um violonista?
Leny Andrade - Eu não tinha um disco de violão e voz. Meu estilo ficou mais determinado e mais acentuado com o surgimento da bossa nova. Através dela obtive conhecimentos do jazz. O que eu canto hoje é samba-jazz.
Folha -Na sua opinião, qual a importância do violão na bossa nova?
Leny Andrade -O violão começou todo um processo de mudança dentro da bossa. Antes era: "Oi/ Esse coqueiro que dá côco". Depois, isso deixou de existir com o violão, que trouxe acordes modernos. Aí veio o piano do Tom e o violão do João Gilberto, Carlos Lyra e outros.
O violão sempre foi uma peça importante no contexto da mudança da música brasileira para os dias atuais. Trouxe riqueza de harmonia e acordes mais dissonantes.
Folha - Agora, gravar shows "acústicos" virou moda.
Leny Andrade - É, agora é uma onda. Por isso considero um momento bom para gravar um disco assim.
Folha - Como foi seu encontro com o violonista Romero Lubambo?
Leny Andrade - Conheci Romero no Rio mas fomos tocar juntos em Nova York, numa reunião na casa de minha amiga Liza Minelli.
Folha - Nessa festa você conheceu Lubambo?
Leny Andrade - Sim, naquela noite houve uma reunião lá, que acabou na cozinha da casa de Liza, às 7 da manhã. A rua estava congelada. Ivan Lins estava conosco e deu a idéia de gravar o disco.
Folha - Como foram as gravações em Nova York?
Leny Andrade - Gravamos no estúdio 900, na Brodway Street. Foi muito bom porque quem grava aqui com 32 canais já gravou bem com 8, 16 e 24. No Brasil o cara já senta pra gravar em 32 sem saber nada sobre canais. Para ele, canal é só aquele do dente.
Folha - O que você achou do resultado?
Leny Andrade - Gostei muito do som da gravação, ele é amplo e mostra a clareza da voz. Este tipo de disco te expõe muito.
Folha - Que análise você faz do seu trabalho no exterior?
Leny Andrade - A música brasileira está muito viva no exterior. Cantei no Festival Hollywood Ball, em Los Angeles, no dia 3 de agosto. É um anfiteatro que sobe por uma montanha. Tinham 15.300 pessoas. Dá uns três Canecões.
Minha mudança para Nova York me permitiu participar dos festivais de jazz mais importantes, já fiz 40 desde que me mudei.

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