São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Um ano de tensão

ANTONIO CARLOS DE FARIA

RIO DE JANEIRO – Vigário Geral nem teve tempo de lembrar os seus mortos. Ontem, rajadas de tiros disparados por traficantes marcaram o primeiro ano da chacina de 21 moradores da favela.
Ninguém que ouviu os tiros tomou a iniciativa de chamar a polícia. Todos sabem que os traficantes não desperdiçam balas. Só atiram para intimidar um invasor, que às vezes pode ser a própria polícia.
Além disso, todos se lembram que eram policiais os homens que entraram na favela, na noite de 29 de agosto do ano passado.
Estão presos 33 policiais acusados pelo massacre de Vigário Geral. Teriam sido eles que, encapuzados, atiraram nos moradores, numa ação de vingança pelo assassinato de quatro companheiros de farda.
Há que se reconhecer a ação rápida do governo do Estado que prendeu os acusados apenas dez dias após o crime coletivo. Mas a rapidez nas prisões não se refletiu em mais tranquilidade para a comunidade.
No último sábado, um tiroteio de uma hora já mostrava que o desprezo pela vida continua o mesmo que há um ano.
Como um ato de provocação, policiais militares e traficantes trocaram tiros no momento em que se iniciava uma vigília em memória pelos mortos.
Os celebrantes se refugiaram na Casa da Paz, centro comunitário estabelecido no mesmo local onde oito pessoas de uma mesma família foram assassinadas na chacina.
Dentro do centro comunitário, os presentes ouviram os tiros trocados por dois grupos sobre os quais não exercem nenhum controle. Entre os agressores potenciais, os moradores continuam convivendo com o medo constante.

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