São Paulo, quinta-feira, 1 de setembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Guerrilha da Irlanda anuncia o cessar-fogo

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

O IRA (Exército Republicano Irlandês, de maioria católica) anunciou a }cessação total de sua campanha terrorista pelo fim da soberania britânica na Irlanda do Norte a partir da 0h de hoje (20h de ontem em Brasília).
O conflito entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte matou 3.168 pessoas desde 1969, das quais 2.224 eram civis.
O anúncio do fim da violência é precondição para o Sinn Fein (braço político do IRA) participar de negociações com o governo britânico e da República da Irlanda sobre o futuro da Irlanda do Norte.
Mas enquanto católicos festejavam em Belfast (capital da Irlanda do Norte) e o governo da Irlanda via "o início de uma nova era", o premiê britânico, John Major, pressionado pela maioria protestante da Irlanda do Norte, recebeu com cautela a declaração do IRA.
Major quer que o IRA afirme explicitamente que a "cessação total da violência é permanente".
O plano de paz para a Irlanda do Norte, lançado por Major e pelo premiê irlandês, Albert Reynolds, em dezembro passado (Declaração de Downing Street), afirma que o IRA deve declarar o fim "permanente da violência" e, depois de 90 dias sem nenhum atentado, o Sinn Fein poderia começar a dialogar com Londres.
Major disse ontem que os 90 dias só começarão a ser contados após o IRA esclarecer que o cessar-fogo é permanente.
Mas Major disse que a declaração do IRA é "uma grande oportunidade para a paz".
Já o premiê irlandês acha que o IRA deixou claro ao usar os termos "cessação total" que o fim de sua campanha terrorista é permanente e que "é só uma questão de tempo" para Londres se convencer.
Gerry Adams, presidente do Sinn Fein, afirmou que o governo britânico e os protestantes devem "aproveitar a oportunidade".
Adams disse achar difícil que o IRA volte a se manifestar sobre o assunto e pediu que o governo britânico liberte prisioneiros do IRA, diminua a presença de tropas britânicas na Irlanda do Norte e desarme paramilitares protestantes.
Líderes protestantes da Irlanda do Norte criticaram a perspectiva de diálogo com o IRA e exigiram o uso do termo "permanente".
Eles afirmam que Major deve ter feito concessões ao IRA. "Ninguém acredita que o IRA depôs suas armas de repente", disse o pastor Ian Paisley, líder do Partido Unionista Democrático (de maioria protestante). Tanto Major como Reynolds negam.
Segundo a Declaração de Downing Street, qualquer mudança no status constitucional deve ser aprovado em plebiscito na Irlanda do Norte, onde 56% da população é protestante.
O IRA e os grupos nacionalistas norte-irlandeses querem a unificação da Irlanda do Norte com a República da Irlanda, de maioria católica.

Texto Anterior: Gás viaja quase tão rápido quanto a luz
Próximo Texto: Católicos festejam em Belfast
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.