São Paulo, quinta-feira, 1 de setembro de 1994
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A integração dos índios; Voto evangélico; 'Petrossauro'; Esgotos em São Paulo; Orçamento da Unicamp

A integração dos índios
"Em relação ao espantalho brandido pelo professor Hélio Jaguaribe, em apoio a suas lamentáveis teses, esclarecemos que a Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas, da Subcomissão pela Prevenção da Discriminação e Proteção das Minorias, da Comissão de Direitos Humanos da ONU (que aliás está ainda em rascunho) não é uma resolução. Como o nome indica, é uma declaração, ou seja um instrumento sem poder legal de obrigar os Estados ou a comunidade internacional. As declarações de instâncias internacionais jamais poderiam justificar intervenções ou movimentos separatistas. Se declarações tivessem algum poder, as que Hélio Jaguaribe cometeu teriam funestas consequências."
Manuela Carneiro da Cunha, coordenadora do Núcleo de História Indígena da USP, Fernando Millan, diretor da Comissão Teotônio Vilela e Paulo Sérgio Pinheiro, coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da USP (São Paulo, SP)

"Nós, parte do povo Krenak do Rio Doce, Minas Gerais, há 30 anos vivendo em Tupã (SP), num exílio forçado pelo governo, nos preocupamos com as declarações do sr. Hélio Jaguaribe, publicadas nesta Folha. Durante todo este século, não somente ouvimos a mesma coisa, como nosso povo experimentou os sofrimentos e humilhações de políticas que seguiram tais preceitos."
João Batista O. Borum Him, Helena Cecílio D. Nomiak, Maria C. Damasceno Tepó e Lucileia C. Damasceno Trumaent (Tupã, SP)

"A tese da integração dos povos indígenas à 'comunhão nacional', é, na história do Brasil, considerada 'moderna'. A declaração de Hélio Jaguaribe nada mais fez do que propor um prazo definido de 'solução final' para os povos indígenas. À Comissão Pró-Índio de São Paulo resta repudiar tal declaração, lembrando que o respeito à diversidade étnica e cultural dos povos indígenas é matéria constitucional, o que determina ao Estado brasileiro que exerça proteção para que os povos indígenas vivam hoje e no futuro."
Lidia Luz, pela Comissão Pró-Índio de São Paulo (São Paulo, SP)

"Quero repudiar as declarações do sr. Hélio Jaguaribe e prestar minha solidariedade à causa e à luta dos povos indígenas. Esperamos que não haja mais sociólogos como Hélio Jaguaribe no século 21."
Sergio Arouca, deputado federal pelo PPS-RJ (Brasília, DF)

"Certas afirmações adquirem conotação polêmica por motivos, às vezes, pouco compreensíveis. Não acredito que o sr. Hélio Jaguaribe, um notável humanista, tenha proposto o exagero de uma 'limpeza étnica'. Acho mais provável que o que ele disse tenha sido mal interpretado. Quanto à integração plena dos índios à sociedade, vejo-me inclinado a concordar que lhes devem ser dadas oportunidades para tal, assim como devem ser dadas também a todos os outros membros da nossa sociedade que se encontram em condições menos favorecidas, tais como os favelados, sem que seja preciso abandonarem suas tradições e o que há de pitoresco e valioso na sua cultura."
Ricardo Antonio Ramos Roberto (São Paulo, SP)

"Lamentamos as declarações do sr. Jaguaribe. Defender o fim dos índios até o ano 2000 significa antecipar a morte de cerca de 180 nações indígenas, através de uma prática etnocida. A defesa deste genocídio anunciado, defendido também pela colunista Barbara Gancia, deve ser repudiada por aqueles que possuem o compromisso ético com a vida das futuras gerações."
Marco Antonio Mróz, secretário estadual do Partido Verde (São Paulo, SP)

Voto evangélico
"Quero cumprimentar o irmão Jaime Wright pela coragem profética ao denunciar aqueles que, em nome de Deus, pretendem manipular a fé e a cidadania do povo evangélico brasileiro. É hora de o povo cristão dar um fim à ímpios líderes que têm abençoado massacres de índios, concentração de renda, corrupção, qualquer coisa, em nome do deus que adoram: o dinheiro!"
James William Goodwin Junior (Belo Horizonte, MG)

'Petrossauro'
"Sem alarde e com cobertura burocrática da imprensa saiu o 1º gatilho de preços no país. É o aumento de combustíveis que, em vez de ser pago por quem usa, será pago pelo Tesouro. Se a Folha prestasse atenção, deveria destacar que a Petros deve à Petrobrás US$ 208 milhões. Se esse valor voltasse à estatal em espécie, com juros internacionais, quem sabe a sangria do Tesouro pudesse ser adiada por dez meses. Pois bem. A Folha, em vez de investigar isso à exaustão, manda sua ombudsman num alegre convescote de jornalistas patrocinado pelo Petrossauro. Quanto será que a Petrobrás gastou com esse seminário?"
Luiz Gornstein (São Paulo, SP)

Esgotos em São Paulo
"A propósito da reportagem intitulada 'Fleury investe menos em esgotos domésticos', publicada em 23/08 pela Folha, gostaria de prestar alguns esclarecimentos que julgo importantes: 1) todo o sistema de esgotos sanitários da Região Metropolitana de São Paulo tem merecido, ao longo dos anos, ações contínuas que exigem investimentos de vulto e que seguem uma lógica técnica irrefutável. 2) Assim, ao ampliar os índices de cobertura com rede de água, a Sabesp iniciou os trabalhos para aumentar a coleta de esgotos em toda a Grande São Paulo. E foi exatamente isso que a empresa desenvolveu entre 1987 e 1990, construindo cerca de 4.000 quilômetros de redes coletoras de esgotos, graças a um financiamento de US$ 408 milhões do Banco Interamericano de Desenvolvimento. 3) Essas novas redes, que aumentaram os índices de cobertura da Região Metropolitana para 63%, permitiram a execução de milhares de ligações domiciliares, conectando à rede pública mais de 400 mil residências. 4) Ampliada a cobertura, a Sabesp iniciou as ações para tratamento dos esgotos coletados através das obras pertencentes ao Projeto Tietê. Ainda assim, e apesar de ter sido feito investimento significativo em coleta de esgotos entre 87 e 90, a atual administração continuou a desenvolver esforços para ampliar ainda mais a cobertura e executou, até dezembro de 93, cerca de 250 mil ligações domiciliares de esgotos em 2.918 quilômetros de novas redes. 5) No interior do Estado, em municípios operados pela Sabesp, a atual administração também realizou as ligações necessárias para atender o crescimento da população."
Luiz Appolonio Neto, presidente da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo –Sabesp (São Paulo, SP)

Orçamento da Unicamp
"Em relação ao artigo do reitor da Unicamp, professor José Martins Filho, de 30/08, devemos esclarecer que não houve consenso em torno do patamar de comprometimento com a folha de pagamento de salário das universidades estaduais paulistas. O valor de 85% referido foi uma imposição unilateral do Cruesp, uma vez que só aceitamos discutir o patamar de comprometimento quando os salários recuperarem o valor de compra de janeiro de 89."
José Luis Pio Romera, diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp e coordenador do Fórum das Seis Entidades (Campinas, SP)

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