São Paulo, sexta-feira, 2 de setembro de 1994
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Dólar bate recorde de baixa pós-real

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dia após o CMN (Conselho Monetário Nacional) ter adotado medidas visando fortalecer o dólar, as cotações registraram o recorde de baixa desde a implantação da nova moeda.
O dólar comercial (exportações e importações) fechou cotado a R$ 0,882 para compra e a R$ 0,883 para venda. A diferença para a cotação de venda do Banco Central (BC), fixada em US$ 1,00 por R$ 1,00, é de 11,7%.
No mercado futuro, as cotações também caíram: 0,98% para o fechamento deste mês; 0,96%, para outubro; e 1,04%, para novembro.
O preço de ontem do dólar no mercado comercial equivale ao pago ao exportador no dia 21 de junho deste ano –quando ainda vigorava a política de correção diária, pela inflação.
Desde a implantação da nova moeda, o Banco Central (BC) deixou de atuar no mercado e a cotação do dólar passou a refletir, essencialmente, o jogo da oferta e da procura.
As medidas adotadas pelo CMN tentavam aumentar a demanda por dólares e, assim, sustentar as cotações (impedir novas quedas).
Mas, ontem, o governo adotou novas medidas (leia texto à página 1-4) que anularam o efeito das adotadas pelo CMN.
Na prática, para os exportadores, não haverá forma de crédito mais barata do que os ACCs (Adiantamento de Contrato de Câmbio). Logo, o dólar continuará tendo maior oferta do que procura –e o preço cai.
Em palestra promovida pelo BMC, ontem pela manhã (antes que o mercado soubesse das novas medidas), o ex-ministro Mailson da Nóbrega já alertava: "Sei que existem exportadores nesta sala. É bom incorporar ao planejamento de suas empresas a idéia de que as cotações não vão atingir a US$ 1,00 por R$ 1,00 ao longo de 1995."
Mailson disse que "estamos enfrentando uma crise cambial às avessas. Temos abundância e não escassez. Vivemos uma moratória ao contrário".
Para o ex-ministro, o novo regime cambial, que ele chamou de "a âncora definitiva do câmbio", vai provocar queda no saldo da balança comercial, crescimento das importações, "e o déficit na conta corrente será financiado pelo ingresso de capitais". O país, segundo o ministro, deixará de ser exportador líquido de recursos para o exterior.
Mailson disse que as reformas estruturais –"que precisam ser iniciadas no primeiro semestre de 1995"– podem redundar em uma "grande margem de contenção de custos" para as empresas. A reforma tributária, por exemplo, poderia desagravar as exportações entre 8% e 15% (o peso dos impostos cobrados em cascata).

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