São Paulo, sexta-feira, 2 de setembro de 1994
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Guantánamo é "campo de concentração"

MARK POTOK
DO "USA TODAY"

Soldados dos EUA, trabalhando quase 24 horas por dia, erguem quase 3.000 novas tendas por dia em Guantánamo.
Para os 7.000 militares e civis que administram a base, a situação é cada vez mais difícil. As praias foram fechadas, as famílias dos militares enviadas de volta aos EUA, residências foram evacuadas e suas folgas canceladas.
O acampamento é composto por duas cidades de barracas. Uma delas é habitada por haitianos que fugiram de sua ilha por razões políticas ou econômicas, e a outra por cubanos que desafiaram mares traiçoeiros para chegar à Flórida.
"Isto daqui é como um campo de concentração", diz Yolanda Baez, resgatada com 14 outras pessoas, entre as quais um bebê de 15 meses. "Tem poeira por toda parte, a água potável é quente, não há higiene. E não temos meios de comunicação. Minha filha nem sabe se estou viva ou morta."
Alguns cubanos dizem que não sabiam que não seriam aceitos nos EUA. "Como faço para voltar a Cuba? Com quem falo?", pergunta Francisco Oropesa, arrependido.
Muitos haitianos, por sua vez, têm raiva porque os EUA não os deixam sequer fazer um pedido de ingresso no país. Eles têm que retornar e encaminhar seus pedidos a representantes dos EUA no Haiti.
Mesmo os soldados americanos estão infelizes. "Eu me sinto como se estivesse num campo de concentração", diz o oficial da Marinha Jeff Cormie, 29.
Sua mulher faz parte dos 2.200 familiares de militares que estão indo embora por causa do espaço.
Para muitos militares, a base é como um ideal do passado. Ela tem um cinema ao ar livre, coisa quase desconhecida nos EUA. Possui pequenos shopping centers, um sistema escolar completo, até o colegial, um ginásio de esportes e uma pista de boliche.
Os militares passam suas folgas na praia, fazendo mergulho. "Costumava ser um ótimo lugar para se estar", lamenta um oficial.

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