São Paulo, sexta-feira, 2 de setembro de 1994
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A hora é grave

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – Como se não bastassem os problemas que temos, alguns candidatos elevaram o nível da campanha baixando os quesitos a serem examinados pelos eleitores. Discute-se um detalhe da anatomia no qual, pelo menos até agora, ainda não me detive conscienciosamente. É possível que venha a me interessar, mas para isso serei obrigado a incluir outros candidatos na disputa, inclusive o Enéas.
E deveria parar por aqui, ao imaginar o grosso do eleitorado gastando suas energias cívicas na contemplação ou na reflexão do exótico detalhe corporal do candidato que está sendo tachado de exótico.
Por falar em exótico, nas ordens-do-dia dos tempos da ditadura era obrigatória a referência às "doutrinas exóticas" que ameaçavam o progresso e a ordem da pátria. Hoje, depois da queda do Muro de Berlim e do esfacelamento da URSS, exóticas são as idéias (ou as barbas) do candidato Enéas, talvez o próprio candidato em si, como um todo, idéias e barbas.
Por isso mesmo, aproveitando a polêmica sobre partes duras ou moles dos candidatos, seria justo acrescentar –já que a questão é essa– os mais notáveis representantes da espécie.
Coisa de cinco ou seis anos atrás houve um concurso promovido por uma boate paulista e uma revista carioca. Desejava-se saber o melhor dos melhores, a nata da nata no setor. Não me recordo qual foi o vencedor; no caso, a vencedora. Lembro de algumas candidatas: Adéle de Fátima, Isabel Staziak, Enoli Lara –elas promoveram entusiástica panfletagem de boca de urna, com o que saiu lucrando o eleitorado. Não estou sugerindo um concurso dessa espécie. A hora –como disse aquele general francês em Sedan– é "très grave".
Os programas partidários estão sendo acusados de monótonos, pirateados uns dos outros e improváveis em termos de concretização. Comparar o programa do PSDB e o do PT, por exemplo, é perda de tempo: são excelentes. O referencial seria outro e a questão levantada por Quércia pode ser a alternativa.

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