São Paulo, domingo, 4 de setembro de 1994 |
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Montoro quer liderar convergência democrática em apoio ao governo
CLÓVIS ROSSI
Sua tarefa fundamental, diz, será "procurar uma grande convergência democrática, uma grande frente no Congresso Nacional, para o apoio ao governo, em clima de entendimento e diálogo". A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Montoro: Folha - Se o sr. fosse obrigado a apresentar um projeto logo no primeiro dia de atuação na Câmara, qual seria ele? Montoro - O primeiro projeto necessário agora é a complementação do plano econômico. Seria a reforma tributária, para acabar com essa multiplicação de 59 tributos desorganizados. Seria uma reforma tributária visando a simplificação e marcada pela justiça: quem pode mais, paga mais, quem pode menos paga menos e quem não pode não paga. Folha - Que outras prioridades o sr. levaria para a Câmara? Montoro - O primeiro e fundamental ponto que me levou a aceitar a candidatura a deputado federal é ajudar o presidente da República, Fernando Henrique, a governar o país. Sem base parlamentar, não há governo que possa ser exercido. Minha primeira tarefa, portanto, será procurar uma grande convergência democrática, uma grande frente no Congresso Nacional para o apoio ao governo, em um clima de entendimento e diálogo. Vamos tratar de formar uma maioria de lideranças que examinem os projetos até antes de serem submetidos à aprovação do Legislativo. Folha - O sr. não acha que essa frente que já está se formando em torno do Fernando Henrique e que tende, pela tradição brasileira, a se ampliar, em caso de vitória, pode ser paralisante, como o foi, por exemplo, a Aliança Democrática, que elegeu Tancredo e Sarney? Montoro - Esse é o cuidado que deve ser tomado. E essa é a tarefa que acho que deveria exercer no Congresso. Essa convergência democrática deve ser feita em torno de princípios e não em troca de favores. É preciso escorraçar os "anões" que vivem da negociação clientelística da troca de favores. É preciso substituir essa ação por um debate elevado em torno dos projetos de interesse público. Acho que há clima para isso. Folha - O sr. acha que o sistema atual de partidos e eleições é correto ou exige alterações? Montoro - Há duas ou três mudanças que me parecem essenciais. Uma delas é a introdução do voto distrital misto para que haja uma aproximação maior entre o eleitor e o seu deputado. Cada região teria a sua representação e esse é um ponto que me parece fundamental. O segundo ponto é eliminar essa fragmentação partidária, com 40 partidos registrados. Folha - No caso do seu partido, o PSDB, parece haver uma discussão interna entre correntes que querem que ele se transforme num superpartido, aglutinando outros, e as que preferem que fique mais ou menos como está. Qual a sua posição? Montoro - O partido é meio, não é fim. É preciso encontrar meios que sirvam melhor ao país e não ao partido. É claro que o PSDB está sendo o centro desta convergência democrática. Só as circunstâncias é que vão indicar o que é melhor, ficar com uma frente democrática ou constituir no Brasil um grande partido. Folha - Como é que o sr. se sente no mesmo palanque do deputado estadual Afanásio Jazadji (PFL), que foi o mais feroz crítico da chamada política de direitos humanos praticada durante a sua gestão como governador? Montoro - É uma das contingências da atual legislação eleitoral. É ele que está nos apoiando. Faz parte da convivência democrática. Folha - O sr. é favorável à idéia de uma Assembléia Revisora exclusiva para reformar a Constituição? Montoro - Se fosse possível, não há dúvida de que seria o ideal. Teria mais independência para elaborar uma nova Constituição. O problema é examinar as condições concretas. Neste momento, não parece viável, mas o Brasil tem mudado muito. Parecia que estávamos em um clima de verdadeiro desespero, a população indignada, o presidente da República afastado por corrupção, parlamentares apontados como corruptos. Parecia que não havia caminhos, mas, de repente, mudou. O clima de desespero está sendo substituído por um clima de esperança. Folha - A imagem dos políticos parece ter atingido o seu ponto mais baixo. Ao que o sr. atribui essa má imagem e o que se pode fazer para corrigi-la? Montoro - A retomada da democracia, após um longo período autoritário, explica essa situação. Democracia não se faz de um momento para o outro. Nós derrubamos a ditadura mas é preciso construir a democracia. Está sendo talvez mais difícil construir a democracia do que foi derrubar a ditadura. Nesse processo, há uma decantação normal. Os corruptos, os desonestos, começam a ser apontados e começam até a ser cassados. Ao lado de aspectos negativos, há aspectos altamente positivos, que não podem ser esquecidos. Afastou-se um presidente da República por corrupção, dentro do regime democrático. Esse Parlamento, que é tão criticado, afastou um presidente pela primeira vez na história do Brasil e talvez do mundo. Esse Congresso fez uma Comissão Parlamentar de Inquérito que foi modelar. Apuraram os fatos com rapidez e com correção, ainda que na continuidade nem tudo tenha sido perfeito. Texto Anterior: Munhoz quer empenho nas grandes cidades Próximo Texto: Aloysio vai esperar as iniciativas do governo para definir atuação Índice |
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