São Paulo, domingo, 4 de setembro de 1994
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A bobagem dos índices

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Qual é a inflação de agosto? Os 5,4% medidos pelo Índice de Preços ao Consumidor em real, IPC-r, do IBGE, ou os 0,54% apurados no Índice de Preços ao Consumidor, do Ipead, de Belo Horizonte?
Não é preciso escolher. Os dois são verdadeiros, por mais estranho que pareça. É que eles medem coisas muito diferentes.
Na verdade, esses índices não medem a inflação. Medem preços de determinados produtos, em determinadas cidades, em determinados períodos.
O IPC-r do IBGE mediu o custo de vida em dez capitais estaduais, comparando preços médios do período de 16 de julho a 15 de agosto com os preços médios do período de 16 de junho a 15 de julho.
Já o Ipead mediu o custo de vida em Belo Horizonte, comparando preços médios das quatro primeiros semanas de agosto com os preços médios das quatro semanas de julho.
Já se vê a diferença. O IPC-r pega só 15 dias de agosto, numa ponta, e na outra capta a alta inflação da última quinzena de junho, em cruzeiros reais.
O Ipead pegou todo o mês de agosto, comparando só preços em reais, sem contaminações do cruzeiro real. O IPC-r está mostrando o que aconteceu nas vésperas do real. O Ipead mostra só o que aconteceu nos dois meses de real.
Há diversos índices de preços confiáveis no país. Todos mostram diferenças entre si, porque medem situações diferentes. E são assim porque se destinam a diferentes fins.
O IPC-r foi inventado para corrigir salários nas datas-bases das diversas categorias após o real. O cálculo precisa estar pronto no dia 1º de cada mês, quando o novo salário entra em vigor. Por isso, a coleta de preços termina dia 15, para dar tempo de fechar os dados das dez capitais abrangidas.
Outros índices, como o da Fipe, em São Paulo, e o do Ipead, de Belo Horizonte, são calculados semana a semana, porque feitos em apenas uma cidade. E há ainda índices, como os que medem a cesta básica, que consideram a variação de preços de um dia para outro.
Todos estes mostram que a inflação depois de 1º de julho anda muito perto de zero. Os outros, que ainda pegam a moeda velha, começaram altos e vão caindo na medida em que medem menos cruzeiros reaia e mais reais. Em setembro, todos se encontram, perto de zero.
Toda essa discussão sobre qual vale e qual não vale é uma imensa bobagem.
Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a coluna de LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS.

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