São Paulo, domingo, 4 de setembro de 1994
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Príncipe Charles cria projeto arquitetônico

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

O príncipe Charles já foi comparado a Hitler por suas idéias sobre arquitetura. Depois dos polêmicos ataques contra prédios modernos, o herdeiro do trono britânico resolveu colocar em prática suas idéias tradicionalistas.
Em outubro, as primeiras 61 casas do projeto Poundbury serão inauguradas nas propriedades de Charles ao lado da cidade de Dorchester (15 mil habitantes), no sudoeste da Inglaterra.
Poundbury ocupa uma área de 160 hectares. Em 25 anos entre 2.000 e 3.000 casas devem ser construídas no local. Todas refletindo as preocupações ambientais e arquitetônicas do príncipe Charles.
Para fugir da uniformidade e predomínio do carro, visto nos subúrbios modernos, cada casa de Poundbury terá um projeto único. A garagem geralmente será nos fundos da casa e as ruas serão estreitas e com ângulos curvos.
Os jardins também serão nos fundos e as portas das casas bem próximas da rua, como em casas antigas, para aumentar o contato entre vizinhos. Janelas, chaminés, portas, parapeitos –quase todo detalhe será individualizado.
O projeto urbanístico é do arquiteto Leon Krier. Mas para projetar e construir as casas foram contratados arquitetos e empreiteiros locais, para se usar material e padrões arquitetônicos da região.
O projeto de Krier prevê uma série de bairros urbanos quase independentes, com escritórios, lojas e reduzidas instalações industriais, centradas numa praça com um mercado.
Em termos ambientais, uma das maiores preocupações de Charles, as casas serão equipadas com vidros grossos e revestimentos no teto e paredes mais espessas para reduzir a perda de calor, diminuindo dessa maneira o consumo de energia para aquecimento.
Só será usado gás natural. Madeiras produzidas por reflorestamento e materiais reciclados terão prioridade.
A preocupação estética levou à eliminação de antenas e postes, com energia e televisão abastecidos por cabos subterrâneos.
O projeto é administrado pelo Ducado da Cornuália, estabelecido por Eduardo 3º no ano de 1337.
Apenas o filho mais velho e herdeiro do monarca pode tornar-se duque da Cornuália. O ducado deve servir para sustentar o príncipe até ele assumir o trono.
Os negócios do ducado são acompanhados pelo Parlamento, que cobra eficiência administrativa. Por isso, Poundbury, apesar das exigências ambientais e estéticas, deve ainda ser lucrativo. O príncipe entrou com as terras, sem contar a publicidade.
Os US$ 6 milhões investidos na fase inicial vieram do grupo que vai administrar as casas populares e do empreiteiro local Eddie Fry, que administrará as vendas das casas particulares. Até aqui, o maior interesse pelas casas já a venda veio de casais aposentados.
O príncipe Charles certa vez descreveu os modernos subúrbios britânicos como "áreas de moradia impessoais e sem alma que oprimem o espírito".

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