São Paulo, domingo, 4 de setembro de 1994
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China tenta cartada para esfriar economia

OSCAR PILAGALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A China começa a sentir o efeito negativo de ser uma das economias que mais crescem no mundo. Em consequência do superaquecimento, a inflação começa a fugir do controle do governo.
Interrompendo a tendência de alta moderada, em julho o índice pulou de 19% para 24% ao ano, quando a meta oficial seria chegar a 10% em dezembro (o ano passado fechou em 13%).
O governo interpretou esses números como sinal de que a estratégia liberal intensificada há um ano não estava sendo suficiente para conter a alta de preços.
O passo seguinte, dado em fins de agosto, foi acrescentar ao receituário ortodoxo, como contenção do crédito, medidas heterodoxas, como congelamento de preços.
A rápida expansão da economia pode ser medida pelos investimentos que em julho estavam num patamar mais de 70% superior ao do mesmo mês de 93.
O PIB (Produto Interno Bruto, tudo o que o país produz em um ano) vem crescendo a 13% sem que o ritmo acelerado dê sinais de arrefecimento.
A expansão, no entanto, é desigual, mostrando o abismo existente entre a China estatal e a privada.
Enquanto a produção das empresas particulares se multiplica à razão de 50% ao ano, a das estatais continua, em sua grande maioria, estagnada.
Calcula-se que o país tenha 100 mil estatais que movimentam anualmente US$ 80 bilhões, ou cerca da metade da produção industrial do país.
Muitas delas –pelo menos um terço das de maior porte– estão falidas e só não fecham as portas porque recebem dinheiro público.
O aparato estatal evita que o desemprego atinja proporções alarmantes. "Talvez 10% das estatais tenham parado de produzir, mantendo seus funcionários em casa com salários de fome", diz a revista "The Economist".
O custo do amparo é elevado. Segundo estimativa citada na revista britânica, em 1992 –antes, portanto, das reformas liberalizantes– a ajuda custou US$ 90 bilhões aos cofres públicos.
O que o primeiro-ministro Li Peng parece temer é a combinação explosiva de inflação elevada, salários baixos e desemprego, resultado de um programa econômico que está no meio do caminho.
Líderes chineses sabem que os protestos que deram origem ao massacre da praça Tiananmen tiveram como pano de fundo o descontentamento com a forte recessão do final da década passada.
A preocupação com a perspectiva de novos distúrbios está na raiz da guinada dos governantes que, nos últimos 15 anos, conciliaram o inconciliável ao imprimir a marca da economia de mercado num país de regime dito socialista.
As previsões são de que, qualquer que seja o desfecho imediato da nova política antiinflacionária, o país continuará crescendo.
Um recente relatório da Academia de Ciências Sociais da China, que faz estudos para o governo, prevê expansão média de 8,5% ao ano nos próximos 15 anos.
Se a previsão se confirmar, em 2010 a China terá se tornado uma das maiores economias do mundo, com um PIB quatro vezes maior do que o de hoje. E metade da população de 1,4 bilhão de pessoas viverá em áreas urbanas –quase o dobro da proporção atual.

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