São Paulo, quarta-feira, 7 de setembro de 1994
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Sinal amarelo

A pesquisa sobre a sucessão presidencial publicada ontem por esta Folha funciona como sinal amarelo em todas as avaliações que apostam na vitória de Fernando Henrique Cardoso já no primeiro turno.
É verdade que o resultado geral é favorável a FHC, pelo simples fato de não ter havido alteração estatisticamente relevante nas intenções de voto. Depois do "affair" Ricupero, podia-se esperar o contrário.
Mas, no detalhe, a pesquisa leva a algumas indagações fundamentais. Nas regiões metropolitanas, a diferença entre FHC e Lula diminuiu seis pontos percentuais (o tucano perdeu quatro pontos e o petista ganhou dois).
Entre os eleitores de nível universitário e de renda acima de dez mínimos, o fenômeno repetiu-se, com maior ou menor intensidade.
Uma possível explicação para essas oscilações está no maior grau de informação desse tipo de público. É importante lembrar que o crescimento de FHC, a partir do real, começou justamente nos segmentos em que agora se reduziu a diferença em favor do candidato tucano.
É no mínimo prematuro, no entanto, imaginar que se repita agora o fenômeno, apenas com o sinal trocado. Embora seja evidente que tudo o que prejudica o plano prejudica também a candidatura FHC, porque está amparada fundamentalmente nele, o raciocínio inverso não é tão óbvio. Ou seja, nem tudo o que prejudica FHC prejudica necessariamente o plano.
Note-se, a propósito, que o caso Ricupero, embora tenha feito FHC perder pontos em alguns segmentos, não abalou o apoio ao plano em si. Ao contrário, segundo o Datafolha a aprovação pelo menos dos paulistanos aumentou dos já elevados 77% do fim de agosto para os 80% apurados na segunda-feira.
É eloquente, a propósito, o fato de que todos os adversários de FHC, por mais que ataquem o candidato em função do caso Ricupero, fazem questão de defender o real e prometer que vão mantê-lo –e até aperfeiçoá-lo– se eleitos.
Esse último dado, descontada a demagogia evidente, é de qualquer forma positivo. Demonstra que a sociedade fartou-se de tal forma da inflação que apostar na estabilidade tornou-se um imperativo de sobrevivência política. Que todos se lembrem disso após a eleição, seja qual for o vitorioso.

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