São Paulo, quarta-feira, 7 de setembro de 1994
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O julgamento de Ricupero; Proposta indecente; Beavis & Butt-head; Cultura em crise

O julgamento de Ricupero
"Parabéns à Folha pelo lindo título de primeira página 'Mantida diferença FHC-Lula' (6/09), respaldado na oportuna pesquisa do Datafolha, logo após o 'affair' Ricupero. Ele demonstra que as manobras em véspera de eleição não 'pegam' mais. Se Lula e outros quiserem 'faturar' junto ao eleitorado, deverão apresentar um plano melhor que o Real e não um lero-lero fiado."
Gilberto Motta da Silva (Curitiba, PR)

"A divulgação de nova e apressada pesquisa tem um claro objetivo: não deixar a peteca cair e impressionar o eleitor, 'favorável' ao Plano Real. É a Folha em gloriosa campanha pelo seu candidato 'não-oficial'! Viva o Brasil, viva a hipocrisia, vivam a falta de escrúpulos e a mentira."
Marcos Augusto Almeida Nunes (Rio de Janeiro, RJ)

"Apesar da brilhante cobertura dos fatos ocorridos, pela Folha, em sua edição de 3/09, é lamentável o procedimento adotado pelos 'veículos de comunicação' do país, quando de forma inescrupulosa se utilizam da imagem da Igreja Católica para minimizar, perante a opinião pública, os efeitos do acontecimento."
Jorge Roberto Uchôa de Oliveira (São Paulo, SP)

"Longe do maniqueísmo de bem e mal, verdade e mentira, Ricupero deve ser julgado pelo evidente conjunto de uma vida inteira de integridade pessoal e de serviço ao povo brasileiro."
Maria Teresa Araujo Silva, professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (São Paulo, SP)

"Na edição de ontem, sob o título 'Ignorância e falta de escrúpulo', o sr. Gilberto Dimenstein declara que o ex-ministro reconheceu seu erro e pediu desculpas. Me parece que o sr. Dimenstein não ouviu ou não leu a carta-demissão do sr. Ricupero. Em momento algum o sr. Ricupero se arrepende do que fez; apenas se arrepende de ter falado. É como o criminoso que pede desculpas por ter confessado um crime, porém não se arrepende do crime."
Antonio Antunes (São Paulo, SP)

"Li o artigo de Gilberto Dimenstein publicado ontem e gostaria de dizer que concordo inteiramente com suas observações relativas ao absurdo e ao autoritarismo da diretoria da AdunB em pedir o desligamento do professor Ricupero da Universidade de Brasília. Ainda na segunda-feira, quando tomei conhecimento da posição da diretoria da Associação de Docentes, encaminhei meu pedido de desligamento da entidade, pois espero que a sociedade saiba que o compromisso com a liberdade e com a construção da dignidade humana continua a ser fundamento das instituições universitárias brasileiras. Em tempo: não sou eleitora de Fernando Henrique Cardoso."
Elizabeth Cancelli, professora da Universidade de Brasília (Brasília, DF)

"O artigo publicado na edição de 5/09 da Folha, sob o título 'A face grave do escândalo', de autoria do jornalista Janio de Freitas, deveria servir de exemplo para muitos profissionais de imprensa de nosso país. Independentemente de sua escolha política, da qual não temos conhecimento, Janio faz uma análise perfeita ao dizer que só em mentalidades muito distorcidas, a estabilidade do real poderia ser um objetivo maior do que a estabilidade institucional."
Jaime Aparecido da Silva (São Paulo, SP)

Proposta indecente
"Como diretor do Instituto Butantan, tenho a honra de dirigir mais de cem pesquisadores básicos, entre os quais me incluo, produzindo uma média de 80 artigos científicos por ano. Mantemos a maior coleção de cobras do mundo, onde se investiga biodiversidade e zoologia (agora com auxílio de uma biologista molecular). Como professor (aposentado) da USP, criei um dos mais importantes grupos de pesquisas em bioquímica básica. O que expus é a prioridade do Brasil de pesquisar biotecnologia, usando a biodiversidade do Amazonas. Ficar apenas na catalogação da biodiversidade, como vem sendo proposto por grupos estrangeiros e nacionais, é abdicar da tecnologia que pode ajudar o país a desenvolver-se e criar empregos. Não aceito o modelo Costa Rica, que esses grupos apóiam, onde por uma bagatela de US$ 1 milhão entregou-se a biodiversidade para uma companhia multinacional explorar. Num comentário na revista 'Nature', chamei esse acordo de 'proposta indecente', o nome da película em que se aluga uma mulher pela mesma cifra."
Isaias Raw, diretor do Instituto Butantan (São Paulo, SP)

Beavis & Butt-head
"A essa altura do campeonato, uma juíza censura o genial desenho animado 'Beavis & Butt-Head' –ele seria inadequado às crianças e adolescentes brasileiros. Inadequado? Para muitas pessoas com escrúpulos, inadequadas são a Candelária, a Praça da Sé... onde as crianças e adolescentes do Brasil morrem de fome, de medo, de cola, de terror, de Aids."
Astrid Fontenelle (São Paulo, SP)

Cultura em crise
"Quero cumprimentá-los pela iniciativa da segunda reportagem da série 'Cultura em Crise' (Ilustrada de 05/09, pág. 5-1) intitulada 'Poder prefere criar a conservar museus'. É raro trabalho jornalístico voltado às questões estruturais dos museus públicos brasileiros. Algumas imprecisões referentes ao Museu da Imagem e do Som, no entanto, estão presentes no artigo e merecem reparos. Elas se devem ao fato de que o repórter não procurou a direção do MIS na preparação da citada matéria. O Museu da Imagem e do Som é uma das unidades que lideram o recebimento de recursos da Secretaria de Estado da Cultura exclusivamente no que tange à realização de atividades fins. Isto é, organização de mostras, seminários, eventos etc. Por outro lado, a reportagem não informa devidamente quanto aos acréscimos recentes do acervo deste museu. Apenas nos últimos 12 meses, entre outras obras incorporadas, o MIS fortaleceu sua coleção com portfólios fotográficos de Hildegard Rosenthal (25 fotos), Alice Brill (25), Hans Gunther Flieg (20), Geraldo de Barros (40) e as séries 'Bastidores dos Museus' (50) e 'Fotografia Brasileira no Século 19' (100); 25 aparelhos fotográficos; 107 títulos em vídeo (incluindo as obras completas de Sandra Kogut, Tom Kalin e Bruce Yonemoto, além de toda a produção brasileira recente exibida nos programas 'Vídeos Inéditos', 'Vídeo +' etc); 134 compact-discs e 61 discos em vinil; 291 filmes; e mais 30 depoimentos na área de história oral. A política de programação ora em desenvolvimento no Museu da Imagem e do Som privilegia projetos que contribuem para o crescimento de seu acervo."
Amir Labaki, diretor do Museu da Imagem e do Som (São Paulo, SP)
Resposta do jornalista Daniel Piza - Foi o secretário estadual de Cultura, Ricardo Ohtake, quem citou como principais aquisições do MIS em 1994 as coleções de fotos de Geraldo de Barros e Hildegard Rosenthal. E o mesmo secretário observou que ambas foram doadas ao museu, e não compradas. De qualquer modo, o dinheiro empregado pela secretaria em aquisições –do MIS e de outros museus– é pouco relevante. Esse era o assunto da reportagem.

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