São Paulo, quinta-feira, 8 de setembro de 1994
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Fleury acusa Fazenda de apoiar PSDB

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO; ANDREW GREENLEES
EDITOR DO PAINEL

ANDREW GREENLEES
O governador de São Paulo, Luiz Antonio Fleury Filho (PMDB), acusa o Ministério da Fazenda de uso eleitoral da máquina de governo em favor de Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas, candidatos do PSDB.
Segundo Fleury, essa "ação deliberada" ocorre de quatro formas. A primeira é o atraso na liberação de parcela de US$ 700 milhões do empréstimo total de US$ 1,2 bi junto ao BNDES para a conclusão de obras do metrô em São Paulo.
"O não-repasse é intencional para não beneficiar o atual governo", diz Fleury. "O dinheiro está lá parado no BNDES e isso é uso da máquina a serviço da candidatura tucana aqui em São Paulo."
Ainda referindo-se a Covas, o governador diz que há uso da máquina da Secretaria de Saneamento do Ministério do Bem-Estar Social. "O secretário Antônio Perosa está repassando recursos para os municípios com o compromisso de que os prefeitos apóiem Covas."
Sobre FHC, Fleury afirma que "seu principal argumento é o real e há publicidade maciça do plano na TV e no rádio".
O governador queixa-se que a Justiça Eleitoral proibiu a publicidade de seu governo por suposto favorecimento ao candidato do PMDB, Barros Munhoz, mas o mesmo não acontece com a campanha pró-real. "Isto pode caracterizar uso da máquina", conclui.
A quarta ação eleitoral do governo federal, segundo o governador, é a política de juros altos. "Não está havendo aumento de consumo que justifique medidas tão drásticas –a não ser que o governo queira de qualquer forma controlar a inflação de setembro ou até criar deflação", diz.
Segundo Fleury, o governo federal cria um "juroduto" de recursos públicos para bancos privados credores dos Estados e da União. "Cada vez que se levanta a taxa de juros, os bancos privados têm um ganho exponencial. É um gasto sem nenhuma utilidade social."
Fleury acha que os governadores serão obrigados a renegociar o pagamento das dívidas com o futuro presidente. "O acordo, com pagamento de 9% da receita estadual ao ano, foi feito numa época anterior ao real, as condições eram completamente diferentes."
Mas não é apenas na questão eleitoral que o governador paulista tem queixas do governo federal. "Há uma política deliberada para asfixiar o governo de São Paulo", acusa. "Nos três anos de meu governo, não recebi nenhum recurso voluntário do governo federal para qualquer área de investimento."
Fleury diz que a União não está cumprindo seus encargos definidos pela Constituição de 88. Na saúde, diz que o governo federal deve "pelo menos" US$ 540 milhões a São Paulo só nos últimos 15 meses. São US$ 150 milhões de repasses do SUS, US$ 150 milhões da cota paulista de medicamentos, US$ 160 milhões para hospitais estadualizados, US$ 70 milhões de verbas de Santas Casas, além de US$ 11 milhões para realizar a última vacinação no Estado.
Apesar das acusações, Fleury poupa a Presidência e culpa a equipe econômica: "São todos do PSDB." "Não acredito que o presidente Itamar saiba disso, se bem que ele me disse que tudo seria resolvido e, até agora, não foi."

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