São Paulo, quinta-feira, 8 de setembro de 1994
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Inglaterra já tem sua "próxima sensação"

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

Eles estão sendo comparados aos Beatles e Sex Pistols. Seus shows se esgotam com semanas de antecedência e o primeiro disco, que chega às lojas semana que vem, é o mais esperado do ano. Foi assim com o Suede em 93/4, agora a bola da vez é Oasis.
A imprensa britânica já tem até um rótulo para bandas como Oasis: "the next big thing" (a próxima sensação). Com dezenas de publicações sobre música –as mais importantes são os semanários "Melody Maker" e "New Musical Express" e a revista "Vox"–, e dezenas de capas para preencher, a imprensa pop britânica cada mês dá três minutos de fama a uma das incontáveis bandas em início de carreira que circulam pelo Reino Unido.
Oasis são cinco "bad boys" de Manchester que jogam cadeiras pelas janelas de hotéis, usam muita e qualquer droga e trocam de garotas como trocam de camisa. Alguma novidade?
Em show em Londres semana passada, a fã Tasha, 19, vestindo uma camiseta escrito "whore" (puta) de um lado e "virgin" (virgem) do outro, disse à Folha: "Não há nada muito especial na música deles, mas é tão legal".
É uma boa definição. O primeiro disco, "Definitely Maybe", traz 11 músicas recheadas de psicodelia Beatles mais guitarras barulhentas e distorcidas mais uma pitada de punk e o cada vez mais em voga glitter rock dos 70.
Músicas como "Shakemaker" e "Supersonic" já estão nas paradas depois de terem sido lançadas em single. "Live Forever" parece saído direto da obra-prima dos Beatles "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band".
Oasis no palco tem aquela atitude esnobe britânica –nenhum dos cinco membros da banda se mexe, nada de diálogo com o público, show curto (70 minutos), sem bis. A platéia adora.
Se "Definitely Maybe" parece ter sucesso garantido, resta saber se a banda chega ao segundo disco ou segue os passos de seus conterrâneos de Manchetser, os Stone Roses. Após venderem um milhão de cópias de seu primeiro disco, a "próxima sensação" de 1989 está até hoje tentando lançar o segundo, prometido para este ano.
Outros exemplos da síndrome são o já extinto Happy Mondays e o Suede, "próxima sensação" do ano passado, que deve lançar o segundo disco este ano, mas perdeu recentemente seu compositor e guitarrista Bernard Butler, que não suportou o circo da mídia em torno da androginia do vocalista Brett Anderson.
Há quem culpe Malcolm McLaren, o empresário-artista por trás do surgimento dos Sex Pistols e do punk, pela falta de fôlego do rock britânico.
Perguntado se ele não era o maior responsável pelo "cinismo e fome de novidade" da cena pop local e sua perda de espaço para o rock dos EUA, McLaren respondeu: "Com certeza. Eu tinha este instinto agressivo para desmantelar e bagunçar e ser tão iressponsável quanto possível –para criar o fiasco e caos em torno do punk que lhe permitiu ficar de fora da indústria por um momento... E os EUA nunca perderam o ideal de fazer rock and roll –nunca se tornaram cínicos em relação a isso. Nós (britânicos) nos entediamos mais facilmente." Vamos ver quanto tempo Oasis vai durar.

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