São Paulo, quinta-feira, 8 de setembro de 1994
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Ocimar Versolato faz desfile inédito no Rio

EVA JOORY
DA REPORTAGEM LOCAL

O estilista paulistano Ocimar Versolato, 32, é o homenageado do segundo Prêmio Rio Sul de Moda, que acontece no Rio de Janeiro no dia 27. Quem desfila para ele é a alemã Tatjana Patitz, 27.
Radicado em Paris, Versolato vai mostrar 16 peças da sua coleção de outono-inverno, apresentada em Paris em março deste ano.
Versolato, que chega ao Brasil dia 23, diz que não gosta de homenagens: "Preferia ter sido convidado para o evento. Homenagem é para quem já morreu e eu tô bem vivo", diz em entrevista exclusiva à Folha por telefone de Paris. O estilista confirma sua participação na semana de criadores em São Francisco e Los Angeles e mostra a sua nova coleção na loja nova-iorquina Bergdof Goodman.

Folha - Como vê o convite?
Ocimar Versolato - É legal ver que as pessoas no Brasil estão se interessando pelo meu trabalho. A época é que não é boa. Estou no meio da minha nova coleção. Mesmo assim, é um enorme prazer.
Folha - Você queria trazer a modelo Karen Mulder. O que aconteceu?
Versolato - Ela está ocupada. Quis a Tatjana porque ela é simpática e tem uma personalidade mais agradável do que as outras.
Folha - Como é o desfile?
Versolato - O mesmo que mostrei em Paris. Minha coleção vem com cores como preto, cinza, cru e xadrez. Vou mostrar materiais diferentes, tipo casimira, seda pura, lã escocesa, cetim e falsa pele e comprimentos curtos e mínis.
Folha - Vai mostrar algo da sua nova coleção?
Versolato - Não, só em outubro em Paris. Será uma surpresa e eu não revelo. Sou superticioso. Não sou velho mas tenho manias.
Folha - Como você vê a volta do glamour na moda atual?
Versolato - Vocês já perceberam isto? Já tem tempo que o glamour voltou... Moda tem que ter fantasia. O legal na moda é fazer o inesperado, o excitante. Se é para se vestir como se estivesse em casa... Falar na volta do glamour é clichê. A preocupação com o visual é uma forma de glamour. A moda por si só já é glamourosa. É glamouroso poder perder uma hora para se vestir. É uma espécie de contrapeso para não parecer que não há mais prazer na moda. O underground e o desconstrutivismo são démodés.
Folha - Mas e a simplicidade?
Versolato - O que mudou nos anos 90 é que o consumidor ficou mais inteligente e cansado de consumir porcaria. Este conceito mudou graças a dois fenômenos: o da moda feita sob encomenda, e o fenômeno Gap (lojas de casual wear). A Gap representa a realidade e deu certo porque existe uma clientela grande para isto.
Folha - Você esteve no Brasil no mês passado e assistiu aos desfiles. O que achou?
Versolato - Para mim teve cara de amadorismo. Amadorismo não rima com modernidade. Ser moderno é ser profissional e não inventar desculpas. Nos desfiles que assisti, fizeram o público de idiota. Achei também que muitos estilistas não apresentaram propostas. É preciso esquecer esse amadorismo, isto me irrita.
Folha - Você acha que existe uma moda brasileira?
Versolato - Defender uma moda brasileira é bairrismo, é ignorância. Moda regional só existe se você se isolar do mundo. Moda é internacional.

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