São Paulo, quinta-feira, 8 de setembro de 1994
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Falta alma à "Casa dos Espíritos"

DANIEL PIZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Pegue uma história de amor convencional, acrescente pitadas de política e feminismo, unte com espiritismo e paranormalidade e mexa devagar, em fogo brando. Eis "A Casa dos Espíritos", filme dirigido por Bille August em 1993 que sai agora em vídeo.
O mingau até poderia sair mais saboroso. Baseado no best seller da chilena Isabel Allende, "A Casa dos Espíritos" traz elenco do maior gabarito: Jeremy Irons, Glenn Close, Meryl Streep, Vanessa Redgrave, Antonio Banderas, Winona Ryder. O diretor é o mesmo do sutil "Melhores Intenções", que conta a saga da família do cineasta Ingmar Bergman.
Mas o filme não é para paladares sutis; trata-se de uma telenovela compacta. A culpa tem vários autores. Primeiro, o próprio livro. Allende fez um "romanção": é a mais velha história do mundo. Aliás, o tal do realismo fantástico, salvo exceções, não passa de literatura convencional em que a maioria das soluções dramáticas recorre a almas penadas.
Segundo culpado, a direção. Tudo é quase insosso, pasteurizado. Os sobretons de saga jamais são atingidos, os momentos trágicos raro são tocantes, os românticos são tão convincentes quanto os de Tarcísio Meira e Vera Fischer na atual novela das oito.
E mesmo as cenas de impacto, como a da tortura de Blanca (Winona), não mexem com o que o escritor John Grisham chama de "instintos primários". O cômodo onde ocorre a citada cena, por exemplo, é de uma limpeza e beleza desinfetadas. E o torturador mete tanto medo quanto uma libélula.
Talvez a equipe multinacional tenha sua parcela de culpa. Por sinal, a sensaboria do filme lembra a da tal "world music". Poderia se passar no Chile ou na Dinamarca ou nos EUA. Até as paisagens são filmadas sem tempero.
Resumir a história é simples. Irons, falando com batata quente na boca, é Esteban Truebas, um latifundiário conservador, machista e autoritário. Casa-se com uma mulher de poder telepático, Clara (Streep), e é irmão de Ferula (Close); tem ciúmes da intimidade das duas. Frequenta bordéis e faz filho numa empregada da fazenda, que depois lhe vem cobrar.
Mais tarde, sua filha Blanca –oh, o destino– se apaixona por um empregado, Pedro (Banderas), que prega sindicalismo aos outros, logo é odiado por Trueba. Claro que Pedro, com o golpe militar (aí desconfiamos que a história se passa no Chile), é procurado; e claro que Trueba terá de ajudá-lo.
Os ingredientes são esses. A mistura só pode matar a fome de invertebrados.
Filme: A Casa dos Espíritos
Direção: Bille August
Lançamento: Paris Video Filmes (011/ 864-3155)

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