São Paulo, quinta-feira, 8 de setembro de 1994
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A punição de Ricupero; Uso da máquina; Violência sexual; Banco do Brasil

FRANCISCO C.WEFFORT;SÉRGIO MOTTA MELLO; HUMBERTO P.CARDOSO;PATRÍCIA GAY PEPPER DA COSTA; GERALDO HENRIQUE DE MATOS; NELY ROBLES REIS BACELLAR;ANDRÉ LUIS DE CAMARGO VON ZUBEN

A punição de Ricupero
"Que Rubens Ricupero tenha saído do ministério, está bem. Fez-se justiça no caso dele, pelo menos. O que, evidentemente, não deve levar a uma quebra da vigilância em face da possibilidade de que se venham a cometer novos abusos do mesmo tipo. É por isso, aliás, que estou participando de um grupo de intelectuais em defesa da transparência nas eleições. Mas também não vejo razão para calar diante de excessos que se cometem, às vezes, em nome da justiça. Por exemplo, a pretensão de alguns professores da UnB (Universidade de Brasília) de impedir Ricupero de dar aulas naquela universidade. Os erros de Ricupero foram cometidos no campo político, não na sala de aula. Ou sabemos distinguir estas coisas ou estaremos revelando não preocupação de justiça, mas espírito de retaliação. Uma estrada que não defende a democracia mas a enfraquece ainda mais."
Francisco C. Weffort, professor titular de ciência política da Universidade de São Paulo (São Paulo, SP)

"Conheci o conselheiro político Rubens Ricupero quase 20 anos atrás, em Washington. Jovem correspondente brasileiro, me sentia orgulhoso de, nos encontros informais na embaixada, ouvir as articuladas reflexões de um diplomata que via o mundo e testemunhava os fatos políticos com a curiosidade, o rigor e o preparo de um verdadeiro cientista da história. Volto a me orgulhar de Ricupero. A saída humilde e transparente do ministro só confirma a integridade e a grandeza do homem que o Brasil e eu aprendemos a respeitar, em momentos diferentes, mas com a mesma admiração. O maior perdedor neste triste episódio somos nós e o nosso país."
Sérgio Motta Mello, jornalista (São Paulo, SP)

"Em sua coluna, o jornalista Gilberto Dimenstein afirma que vê como um ato de grandeza o pedido de desculpas do ex-ministro Ricupero ao despedir-se. Quero expressar minha discordância. Entendo que teria sido realmente um ato de grandeza se o ex-ministro tivesse se desculpado por ter buscado de forma ostensiva sua exposição à mídia e ter considerado a conveniência eleitoral de divulgar um determinado índice inflacionário, mesmo tendo consciência de que estava interferindo indevidamente na campanha eleitoral. De resto, concordo com o jornalista quanto ao amesquinhamento das críticas dirigidas ao ex-ministro. Aliás, muitos destes críticos deviam também estar se desculpando, pois agem exatamente da mesma forma ou pior. Apenas ainda não encontraram sua 'paradiabólica'."
Humberto P. Cardoso (Florianópolis, SC)

"Parabéns ao Gilberto Dimenstein por mais este brilhante texto ('Ignorância e falta de escrúpulo', 6/09). Como aluna de mestrado de relações internacionais na UnB, quero dar meu testemunho da integridade do professor Rubens Ricupero, demonstrada em diversas situações. Como aluna, confirmo o que Dimenstein escreveu: 'É um privilégio ter aula com um diplomata tão experiente e com tamanha bagagem intelectual'."
Patricia Gay Pepper da Costa (Brasília, DF)

Uso da máquina
"O governo Itamar Franco é, antes de tudo, um governo vitorioso, que chega a seu final trazendo resultados positivos na economia, uma alta dose de respeito e admiração por sua conduta, na forma de gerir a coisa pública, e um plano de estabilização que fez renascer a esperança. Neste quadro, o uso da máquina tornou-se dispensável. Com efeito, estamos vivendo um fato raro em nossa história política: pela primeira vez, o que dá voto é falar bem do governo e não atacá-lo."
Geraldo Henrique de Matos (São Paulo, SP)

Violência sexual
"Arrepio e dor no peito foi o que senti ao assistir às imagens mostradas pelo 'Jornal da Bandeirantes' de uma garota do Egito, de apenas 11 anos, tendo seus direitos humanos violados quando retiraram (sem anestesia) o seu clitóris, para que nunca mais pudesse sentir prazer sexual. Será que ninguém vai tomar uma atitude?"
Maria O. Oliveira (Colorado, PR)

Acervo dos museus
"Em reportagem publicada na Ilustrada de 5/09,com o título 'Poder prefere criar a conservar museus', o jornalista Daniel Piza menciona que o Museu da Ciência e Indústria 'não tem nada de acervo'. Face a um equívoco conceitual na informação, gostaria de esclarecer que o Museu da Ciência e Indústria, que se propõe a estabelecer as relações entre a ciência e a indústria, pela sua natureza, obedecerá a critérios de fidelidade ao conhecimento científico e tecnológico. O MCI não disporá naturalmente de acervo do ponto de vista da originalidade e autenticidade que se exige de um museu de arte, mas respeitará o princípio de fidelidade ao conhecimento científico e tecnológico, trabalhando com modelos que expressem essa fidelidade. Esses modelos serão produzidos nos laboratórios de nossas universidades –Unesp, USP e Unicamp e demais participantes desse museu, Secretaria da Ciência e Tecnologia, IPT, Fapesp e Fiesp, em parceria com iniciativa privada e estatal. Essa ampla parceria institucional e empresarial permitirá que São Paulo tenha um Museu da Ciência e Indústria."
Nely Robles Reis Bacellar, coordenadora do Museu da Ciência e Indústria (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Daniel Piza – Traduza-se a carta acima: o Museu da Ciência e Indústria não tem acervo, mas terá. Os modelos a ser produzidos nos laboratórios das universidades o constituirão. O equívoco tem outra autoria.

Banco do Brasil
"O artigo 'Só podem estar brincando', 20/08, de Gilberto Dimenstein, é no mínimo estranho. A sociedade brasileira sabe, e acreditamos que o sr. Gilberto Dimenstein também saiba, que o estado de falência do Estado brasileiro não é fruto do trabalho dos empregados do Banco do Brasil, ao contrário graças ao trabalho dos empregados do Banco do Brasil é que o banco se constitui no maior banco do país e, que de certa forma, que o maior devedor do banco é o poder público, que segundo o articulista, financia 'gordas aposentadorias'. O articulista ignora a existência de fundo de pensão dos funcionários do banco, e que tal fundo é mantido pelas contribuições dos empregados e pelo empregador, como ocorre nos demais fundos de pensão. Por demais de infeliz a comparação feita pelo articulista ao vincular os salários dos empregados do banco com a falta de combate a mortalidade infantil, pois não são os salários do Banco do Brasil que impedem a devida destinação de verbas para o combate a miséria do país. Ao que parece, desapareceu dos registros do sr. Gilberto Dimenstein o fato de que na recente campanha contra a 'fome e miséria' foram os funcionários do Banco do Brasil aqueles que conseguiram aglutinar o maior número de comitês pelo país, contribuindo em muito pelo sucesso de tal campanha. Através da luta dos bancários e especificamente daqueles que trabalham no Banco do Brasil a defesa de privilégios como entende o articulista, mas sim, o reconhecimento e as condições justas de trabalho para aqueles que se dedicam pelo crescimento do maior banco do país."
André Luis de Camargo Von Zuben, diretor-presidente do Sindicato dos Bancários de Campinas e Região (Campinas, SP)

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