São Paulo, quinta-feira, 8 de setembro de 1994
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Livingstone foi maior explorador do continente

DA REPORTAGEM LOCAL E DO "EL PAIS"

Numa época em que esquadrinhar o mundo por satélite era coisa de ficção científica, o explorador clássico perseguia o conhecimento. Com o escocês David Livingstone não foi diferente.
Estudante de Medicina e missionário, ele chegou à África do Sul em 1841. Livingstone não foi o primeiro explorador do continente negro, mas com certeza o maior.
Percorreu 48 mil km em terras africanas. Encontrou o rio Zambezi superior; revelou as cataratas Vitória, a que deu o nome; e foi o primeiro europeu a atravessar o lago Tanganica.
Passou mais de 15 anos no interior do continente. Cortou Uganda, Tanzânia e Quênia. Andava a pé, em carros de boi e em canoas. Nas aldeias, curava os doentes e assim conquistou a amizade dos nativos.
A descoberta do Zambezi sugeriu a Livingstone que seria mais fácil explorar a África seguindo os rios do que andando pelas matas. Perseguiu a nascente do Nilo.
Em sua penúltima expedição, Livingstone partiu de Zanzibar, na costa oriental da África. Queria chegar ao lago Nyasa.
A viagem foi acidentada. Os guias africanos fugiram com os remédios e a comida. Enfraquecido pela malária, o explorador chegou à aldeia de Ujiji quatro anos após a partida.
A notícia de seu desaparecimento no interior na África se espalhou no Ocidente.
Em Ujiji, pequeno povoado na margem tanzaniana do lago Tanganica, os nativos mais velhos ainda narram o acontecimento mais importante da história da região: o encontro entre Livingstone e o jornalista Henry Morton Stanley.
"Dr. Livingstone, presumo?" foi o que conseguiu dizer o norte-americano após dois anos de procura. Uma frase óbvia que o perseguiu pelo resto da vida.
"Realmente não me ocorreu dizer outra coisa", disse Stanley mais tarde. Quando recebeu a missão de encontrar Livingstone e contar sua história, Stanley era correspondente em Madri do jornal "New York Herald".
Próximo ao povoado onde o explorador foi encontrado está o Parque de Gomba, uma pequena e surpreendente reserva de 52 km 2.
É o santuário dos chimpanzés, mas selvagem e pouco adequado a turistas que procuram luxo.
Revigorado pelos alimentos e remédios levados pelo jornalista, Livingstone realizou com Stanley uma expedição pelos territórios próximos a Ujiji e Gomba.
Quando se preparava para retornar aos EUA, Stanley insistiu para que o explorador voltasse à Inglaterra. Mas o escocês partiu para o que seria sua última expedição.
David Livingstone foi encontrado morto, ajoelhado ao lado da cama, no dia 1º de maio de 1873, em Ilala. Souzi e Chouma, seus homens de confiança, enterraram seu coração debaixo de uma árvore.
Depois lavaram o corpo com sal e aguardente e o puseram para secar ao sol. Envolto numa manta de lã e dentro de uma caixa de casca de árvore, foi levado a Zanzibar.
Os ossos do explorador estão na Abadia de Westminster (Londres).
Escravidão
Percorrer os caminhos traçados por Livingstone é passear pela rota da escravidão. Nas mesmas trilhas que os negreiros abriram e ampliaram em suas macabras viagens.
Livingstone informou seu país do tráfico e uma primeira missão chegou à ilha em 1864. Na igreja anglicana ainda há uma placa emoldurada que recorda "a glória de Deus e a memória de Livingstone e outros exploradores, homens bons e corajosos que quiseram tornar o continente africano mais livre e cristão".
A igreja se ergue no lugar em que ficava o mercado de escravos, por onde passavam mais de 200 mil homens ao ano. O altar foi construído no "pilar das flagelações", instrumento de tortura feito para dobrar "espíritos rebeldes".

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