São Paulo, sábado, 10 de setembro de 1994
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Teatro Oficina é entregue a Zé Celso

MARIO VITOR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador Luiz Antonio Fleury Filho e o secretário estadual de Cultura Ricardo Ohtake inauguram amanhã oficialmente, às 17h, o prédio do Teatro Oficina, na rua Jaceguai 520 (Bela Vista, região Centro de São Paulo).
Durante a cerimônia, o "decano do ócio", como o líder do Oficina José Celso Martinez Correa chegou a ser chamado na década passada, receberá do governador a cessão de uso do prédio até 1999. A construção custou R$ 3,4 milhões e consumiu 12 anos.
O diretor e dramaturgo informa que após o descerramento de placa comemorativa e coquetel haverá uma cerimônia-ritual, com música, coro e fogos de artifício. Uma bigorna, símbolo do Oficina, será alçada para ser colocada na fachada do prédio, atendendo a recomendação da arquiteta Lina Bo Bardi, autora do projeto.
Zé Celso gosta de definir o projeto de Lina e de Edson Elito como um terreiro eletrônico. Trata-se de um teatro sem palco tradicional, substituído por uma passarela-corredor em declive com estruturas laterais para a platéia, queda d'água, jardim e teto móvel.
Na cerimônia de amanhã será assinado convênio com o objetivo de criar uma fundação destinada a dar autonomia financeira e gerencial ao Oficina.
A longo prazo, prevê-se a construção de biblioteca e arquivo, além da instalação de praça destinada a eventos culturais sob o Minhocão em frente.
A festa de amanhã inclui trechos de peças do grupo, como "'Mistérios Gozosos", de Oswald de Andrade, "Bacantes", de Eurípides, "Sertões" e "Cacilda", de Zé Celso. Será também a recriação da cerimônia em que Cadmos, herói mitológico grego e governador de Tebas há 2.400 anos, instituiu o culto a seu neto Dionísio.
Às 19h, haverá uma encenação especial e única da peça "Ham-let" aberta ao público. O espetáculo terá o mesmo elenco que atuou na recém-encerrada temporada carioca, inclusive Cristiane Torloni no papel da rainha Gertrudes, Denise Assunção, como Rosencrantz, e música de José Miguel Wisnik.
Desde que foi criado, em 1961, o Oficina é reconhecido como uma das mais importantes companhias de teatro do país. Nos anos 60, notabilizou-se por encenações ousadas, como "O Rei da Vela" (1967), de Oswald de Andrade, que propunha uma revolução formal e ideológica no teatro, e "Roda Viva", de Chico Buarque.
"Nós sempre transamos com o poder", diz José Celso, 57, aludindo ao fato de que atores do grupo foram agredidos por um grupo de ativistas de extrema-direita em 1968, de que o teatro foi invadido e fechado pela polícia do Estado em 1974, de que o então deputado federal Paulo Maluf bancou a construção dos alicerces do teatro em 1985 e de que, agora, o ciclo se completa.

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