São Paulo, segunda-feira, 12 de setembro de 1994
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Brasil não cumpre meta de erradicar lepra

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil não vai acabar com a hanseníase até o ano 2000, como se propôs junto à Organização Mundial da Saúde (OMS) três anos atrás.
A meta era baixar para menos de um doente para cada 10.000 habitantes, prevalência que indicaria o fim da doença como problema de saúde pública.
"Chegaremos muito perto desta meta", disse Gerson Fernando Mendes Pereira, coordenador nacional da Dermatologia Sanitária. Pereira estima que no final do século haverá cinco doentes para cada 10.000 pessoas.
Hoje o Brasil tem 179.247 doentes em tratamento, o que significa 12,51 hansenianos por grupo de 10.000 habitantes. Em 91, a prevalência era de 17 por 10.000, índice equivalente ao da Índia, campeã mundial da doença.
"Estados do sudeste chegarão ao ano 2000 sem a doença", acredita Wagner Nogueira, coordenador da hanseníase em São Paulo.
A queda no número de doentes se deve ao treinamento de pessoal e ao uso em larga escala da poliquimioterapia. Antes, a cura demorava até cinco anos. Agora é possível em seis meses.
A hanseníase é uma doença infecto-contagiosa provocada pelo bacilo de Hansen. É transmissível pelas vias respiratórias e pelo contato com ferimentos.
Quando diagnosticada no início, não deixa sequelas físicas. O que agora preocupa os especialistas são as sequelas sociais da doença. Enquanto a hanseníase está próxima da extinção, o estigma milenar da lepra –nome popular da doença– deve se arrastar décadas além do ano 2000.
"Na América Latina, não há termo mais pejorativo que lepra e leproso", disse o especialista Abrahão Rotberg, no 8º Congresso Brasileiro de Hansenologia realizado em São Paulo.
Para Wagner Nogueira, "o preconceito contra os hansenianos só perde para o da Aids".
Até o início dos anos 80, o doente era aposentado compulsoriamente. O isolamento forçado só foi abolido em 62.
Em 76, um decreto substituiu a lepra pelo termo hanseníase. "Os nomes mudaram, mas a discriminação permaneceu", diz Wallace Pereira, 66, ex-hanseniano que hoje preside a Sociedade Fraternal Dr. Lauro de Souza Lima, em Guarulhos.
Mesmo curadas, as vítimas da hanseníase continuam discriminadas. No país, elas são mais de 800 mil. "Se descobrem que você já teve a doença, dificilmente conseguirá emprego", afirma Pereira.
O especialista em hanseníase José Ruben de Alcântara Bonfim diz que só a informação e o diagnóstico precoce poderão acabar com a lepra e o estigma que ela carrega.
"Se a população não for educada, o doente vai se curar, mas a maldição sobre ele continuará." Bonfim é membro do Morhan, Movimento de Reintegração de Pessoas Atingidas pela Hanseníase, que tem 60 núcleos no país.
INFOMAÇÕES – Morhan, tel (011) 414-2837; Sociedade Fraternal Dr. Lauro de Souza Lima, tel. (011) 208.3151

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