São Paulo, segunda-feira, 12 de setembro de 1994
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O prazer de ganhar

CIDA SANTOS

Logo depois da vitória sobre a China, no sábado, o técnico Bernardinho não se conteve e soltou a frase que talvez melhor defina a trajetória da seleção brasileira feminina adulta na conquista do seu primeiro grande título mundial: "Nós queríamos tanto ganhar, que conseguimos".
Nos últimos três dias, as brasileiras realizaram seus sonhos e os de todas as gerações anteriores: venceram Cuba, considerada a melhor seleção da atualidade, superaram a tradição chinesa em plena Xangai e entraram na quadra ontem contra o Japão sabendo que não dependeriam de mais ninguém para serem campeãs do Grand Prix. Só delas.
Essa geração tem uma sina vitoriosa. Amanhã, por exemplo, faz sete anos que a seleção brasileira juvenil conquistou o primeiro título mundial da sua história com Ana Moser, Márcia Fu e Fernanda. Dois anos depois, o Brasil seria bicampeão mundial juvenil com Virna, Hilma, Ana Flávia e novamente Márcia Fu e Fernanda.
Fazendo as contas, isso significa que meio time da atual seleção brasileira já sabia o que é subir ao degrau mais alto do pódio.
Foi com essa geração que o vôlei feminino brasileiro começou a afastar os seus fantasmas. Em 90, já na seleção adulta, Fernanda, Ana Moser, Márcia Fu e Ana Flávia conseguiram vencer o Peru, então vice-campeão olímpico, na decisão da medalha de bronze dos Jogos da Amizade. Foi um dia histórico: fazia simplesmente nove anos que o Brasil não ganhava das peruanas.
Foi depois desse jogo, que o então técnico da seleção, Inaldo Manta, declarou que as vitórias ensinam mais que as derrotas. Ele dizia que as vitórias mostram que você pode chegar lá e, então, tudo começa a ser possível... Os anos seguintes foram conturbados e até trágicos com a morte de Inaldo e os desentendimentos seguidos entre as jogadoras e a comissão técnica seguinte, comandada por Wadson Lima.
Quatro anos depois, essa geração volta a descobrir com Bernardinho que pode ganhar. É o quinto título que a seleção conquista nesta temporada.
E o Brasil começa também a contrariar a velha lógica e a mudar a geografia do vôlei mundial. A vitória de sexta-feira contra Cuba –a grande favorita ao título– foi o maior exemplo disso. E foi novamente Bernardinho quem melhor definiu o prazer por esse grande resultado: "É ótimo vencer o time mais forte do mundo".

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