São Paulo, segunda-feira, 12 de setembro de 1994
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Grupo Tapa volta à origem com "O Noviço"

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Grupo Tapa volta à origem com 'O Noviço'
"O Noviço" nem bem começa e já vem o aviso, do palco, "é proibido vozerias e estrépitos". Parece anacronismo, mas, no caso, cabe bem. A platéia é quase toda de estudantes, que estão lá para estudar um texto maior do teatro brasileiro, uma comédia de Martins Pena (1815-48).
Seu estrépito logo acaba, quando descobrem que um clássico, um clássico brasileiro, não é sinônimo de aula monótona. Ainda mais que a montagem, apesar de voltada para estudantes, leva o grupo Tapa à sua origem, ao que o grupo faz melhor. Foi assim que revelou, ou melhor, formou Denise Fraga, uma comediante única.
A direção de Brian Penido escolheu espelhar rigorosamente o texto, no que fez bem. Martins Pena não demora para mostrar por que é um marco e o quanto é engraçado. O texto que começa declamado (em parte pelos arcaísmos todos, que ferem o ouvido do brasileiro de agora, com mesóclises tipo "far-lhe-ei") não demora para mostrar todo o seu sarcasmo, toda a sua malícia, que estão presentes nos diálogos e também na trama, simples, de farsa
A interpretação acompanha, com braços abertos, gestos exagerados. À antiga, e talvez por isso mesmo de grande efeito cômico. Também as sugestões maliciosas logo escapam ao texto, contaminando todo o elenco, toda a interpretação.
No elenco, Ana Lúcia Torre, que faz a alegre viúva Florência, é quem mais chama a atenção. A atriz, que vem de uma representação de igual impacto, mas de sinal trocado, quase de tragédia, na peça mais recente do grupo, tem o domínio completo da cena. Leva a platéia para onde quer, fazendo rir com sátira, casando perfeitamente com o texto de Martins Pena, nas suas menores insinuações. É o melhor da peça.
Outros têm as suas boas passagens, como o noviço Carlos, de André Garolli, que ainda se confunde, porém, nos arcaísmos.
O problema de "O Noviço" é que persiste um certo pó das montagens intermediárias do Tapa. Por exemplo, na cenografia, com a cortina realmente empoeirada, os móveis de antiquário do centro, as cadeiras, o confessionário. Tudo parece amontoado, como em alguma velha casa, como em algum museu esquecido.
É evidente que o grupo está reencontrando o seu melhor trabalho, com Martins Pena, com Nelson Rodrigues, com Arthur Azevedo, voltando aos textos maiores do teatro brasileiro. Mas um certo cuidado e uma maior criação são necessários na encenação, até porque Martins Pena e os demais estão aí para mostrar que clássico não é sinônimo de coisa velha.

Título: O Noviço
Quando: Segunda e terça, às 21h
Onde: Teatro Aliança Francesa (r. General Jardim, 182, tel. 259-0086)
Quanto: R$ 10,00 (desconto de 50% para estudantes)

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