São Paulo, terça-feira, 13 de setembro de 1994
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O novo pacote agrícola

JOSÉ GOMES DA SILVA
Com os atrasos e explorações de praxe, já são conhecidas as novas medidas oficiais para o ano agrícola que se inicia.
Igualmente, são do domínio público os fatores que levam o agricultor a tomar a decisão de plantio: a maneira como se saiu no ano anterior, as perspectivas de repetir resultados favoráveis diante da conjuntura e, é claro, as facilidades de crédito existentes.
O componente de risco, a cargo de São Pedro, geralmente não é levado em conta, pois o agricultor é um otimista por profissão e, no geral, não tem outra alternativa senão deitar a semente à terra, torcer para colher alguma coisa e, depois, conseguir vender sem prejuízos.
Nesse contexto, a tabela mostra que, no referente à disponibilidade de crédito agrícola, será difícil alcançar a safra recorde que o governo anuncia (10% acima do máximo até agora conseguido de 75,2 milhões no ano passado), com apenas a metade dos recursos que estavam disponíveis em 1988/89.
Se o tempo correr bem –o que não está acontecendo até agora com a estiagem prolongada que estamos vivendo, que já atrasou o preparo do solo–, poderá ser corrigida a influência desse fator.
A volta de faixas diferentes de crédito, com taxas mais favoráveis para mini e pequenos agricultores, constitui um dos aspectos mais positivos do novo plano de safra, sobretudo no que se refere ao crédito de investimento. O eventual atendimento desses agricultores é contudo extremamente modesto, sendo, novamente, menos da metade do nível alcançado no melhor ano.
Há ainda a questão da meteórica diferença que sempre tem existido entre o anúncio de planos e aquilo que, efetivamente, chega até a conta do agricultor. Nesse particular, um ano de arrochos e cofres raspados, podem derrotar toda a retórica oficial. De outra parte, a seletividade da clientela, que o plano permite, atua sempre em favor dos grandes proprietários, possuidores de melhores cadastros e sempre mais chegados aos gerentes de banco.
Oxalá, contudo, que o santo chovedor e a pertinácia do próprio agricultor tragam de volta o otimismo e ajudem a colher uma boa safra.

JOSÉ GOMES DA SILVA, 70, é fazendeiro e engenheiro agrônomo. Foi secretário da Agricultura do Estado de São Paulo e presidente do Incra.

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