São Paulo, terça-feira, 13 de setembro de 1994
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EUA ganham apoio contra o Haiti

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O secretário de Estado dos EUA, Warren Christopher, anunciou ontem que 17 países, inclusive vários de fora das Américas, se comprometeram a enviar tropas para ajudar a invasão norte-americana do Haiti.
Segundo Christopher, Bangladesh, Bélgica, Holanda, Israel, Reino Unido, Bolívia e Guiana se juntaram aos países americanos que já haviam se comprometido em enviar tropas. No total, serão cerca de 2.000 soldados.
Eles vão ser usados depois que os EUA construírem um "ambiente seguro" no Haiti. Estima-se que 20 mil fuzileiros norte-americanos ocuparão o país em algum momento até o final deste mês.
O presidente Bill Clinton fez vários telefonemas de consulta durante o fim-de-semana e informações contraditórias sobre a data da operação surgiram em diferentes partes do mundo.
O presidente da Argentina, Carlos Menem, disse qo "La Nación que a invasão será esta semana. O premiê da Bélgica, Jean-Luc Dahaene, falou em duas semanas.
Em Washington, o líder da oposição no Senado, Bob Dole, declarou estar convencido de que a invasão ocorrerá em "duas ou três semanas".
Dole afirmou que vai desafiar no Parlamento a autoridade de que Clinton se diz investido para enviar tropas ao Haiti sem consultar o Congresso.
O presidente decidiu não pedir autorização ao Parlamento para invadir ao Haiti. A Casa Branca está segura de que seria derrotada.
A Constituição dos EUA confere ao Congresso a prerrogativa de declarar guerra a outros países. Mas também garante ao presidente o direito de despachar tropas para o exterior em situações de emergência ou para repelir ataques sem prévio consentimento parlamentar.
Vários presidentes dos dois partidos se valeram no passado desse precedente para ordenar operações militares sem ouvir o Congresso.
Soldados dos EUA foram despachados para o exterior 102 vezes desde a formação do país, em 1776. Mas só ocorreram cinco declarações formais de guerra: contra a Inglaterra em 1812, contra o México em 1846, contra a Espanha em 1898 e nas duas Guerras Mundiais (1917 e 1941).
Em duas situações, apesar de não ter ocorrido declaração de guerra, o Congresso aprovou ações militares fora do país: no Vietnã (1964) e no golfo Pérsico (1991).
Dez dos mais importantes constitucionalistas dos EUA enviaram ontem carta ao presidente Clinton para protestar contra sua decisão de não ouvir o Congresso antes de ordenar a invasão do Haiti.
Eles argumentam que uma operação planejada com tanta antecedência não pode ser caracterizada como situação de emergência.

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