São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 1994
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FHC aposta na desintegração do PFL

FERNANDO DE BARROS E SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

O candidato à Presidência pelo PSDB, Fernando Henrique Cardoso, aposta no processo de desintegração de seu principal aliado eleitoral, o PFL.
Segundo lideranças tucanas próximas ao candidato, isso impediria que o eventual governo FHC ficasse refém dos conservadores, principal acusação feita pelas esquerdas ao candidato.
FHC tem confidenciado a amigos que fará um governo "pendular", em zigue-zague, negociando ora com a direita, ora com a esquerda, apostando que é capaz de se equilibrar acima dessas facções.
É impossível ganhar uma eleição no Brasil sem ajuda da direita, disse FHC a um amigo íntimo há cerca de dois anos.
Ontem, em entrevista à Folha, FHC relativizou a importância que o PFL teria no seu futuro governo. "O PFL é muito dividido, tem tendência para todo lado", disse o tucano ao responder se conseguiria atrair o PFL para um governo de perfil social-democrata.
FHC quer governar como um maestro, jogando com as diferentes forças políticas: "É só agir do jeito que eu penso que dá certo".
Esse jeito é "fazer um governo que cuide essencialmente do social, e você pode chamá-lo de social-democrata ou social-liberal".
Na análise de FHC, alguns de seus colegas de academia, sobretudo os petistas, não entenderam o que está em jogo no atual momento político brasileiro:
"Vejo com muita pena certas análises a meu respeito feitas por amigos meus. Eles precisam tirar a poeira dos olhos. Acham que estão na vanguarda quando, na verdade, estão errando completamente".
Comentando o livro "Destra e Sinistra" (Direita e Esquerda), em que o jurista e filósofo político italiano Norberto Bobbio faz a revisão dos dois conceitos, FHC diz:
"Acabei de ler agora. É ótimo. Mas isso é tão óbvio, já faz tanto tempo que as coisas são assim. Pena que muita gente não entendeu".
Uma das estratégias de FHC, caso seja eleito, será atrair o PT pelas bordas, convidando para seu governo pessoas da ala mais moderada do partido.
O cientista político Francisco Weffort, o deputado federal José Genoino (SP), hoje isolado no PT, e a ex-prefeita e candidata ao Senado Luiza Erundina são nomes que estão na mira dos tucanos.
FHC considera que o PT cometeu dois grandes erros políticos.
"Primeiro, apostou que o governo Itamar seria uma espécie de vácuo político, do qual Lula surgiria como grande líder redentor em 94". Segundo, "errou na avaliação do Plano Real".
Social-liberalismo
O termo social-liberalismo foi posto em evidência em janeiro de 1992 pelo então presidente Fernando Collor, em uma série de artigos publicados pela Folha.
Os artigos reproduziam frases e parágrafos inteiros do programa do Partido do Social-Liberalismo Brasileiro, publicado no "Diário Oficial" de 3 de abril de 1991.
Pouco depois, descobriu-se que o texto que servira de base ao programa do PSLB e, mais tarde, aos artigos de Collor, tinha sido escrito pelo diplomata José Guilherme Merquior em outubro de 1990.
Colaborou a Redação

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