São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 1994
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Informante denuncia corrupção policial

MARCELO GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Um informante da Polícia Civil de São Paulo denunciou um esquema de corrupção, tráfico de drogas, extorsão e desvio de mercadorias roubadas que envolveria cerca de 20 delegados e investigadores.
A denúncia foi feita aos juízes e aos promotores da Corregedoria do Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais do Tribunal de Justiça), que estão apurando o caso, em sigilo, há um mês.
A sindicância já tem 647 páginas e 4 volumes. O nome do informante e dos acusados não foram revelados pela Justiça.
O informante, um comerciante, relatou casos de ladrões de carga e de banco que, ao serem presos, teriam sido obrigados a entregar o que haviam roubado aos policiais.
"Depois, os policiais teriam libertado os ladrões', disse a promotora Eliana Passarelli, 38. Alguns dos assaltantes teriam passado a roubar para esses policiais.
Os crimes estariam sendo cometidos desde a década de 80. O comerciante disse ter participado de "acertos" entre policiais e ladrões.
O informante apontou endereços de depósitos de mercadorias roubadas e de drogas que seriam usados pelos policiais. Ele também entregou uma escopeta à Justiça.
A promotora apreendeu um cofre no escritório do comerciante. Nele, havia cheques, cerca de 60 páginas de documentos e fotografias em que o informante está com policiais em reuniões familiares.
Segundo ela, esses policiais teriam trabalhado na Delegacia de Roubo a Bancos, Roubo de Cargas, Roubo de Jóias e em delegacias das zonas sul, oeste e centro.
"A investigação está no início. Temos provas indiciárias, mas elas ainda não são veementes. Podemos quebrar o sigilo bancário dos acusados", disse a promotora.
O informante disse ter trabalhado por 30 anos para policiais do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) e do Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital).
Ele procurou o juiz-corregedor Francisco Galvão Bruno e disse que resolveu denunciar os ex-companheiros por estar "jurado de morte". Bruno pediu que prestasse depoimento, que durou seis horas.
O informante está sem proteção policial. Ele voltou duas vezes e deu novas informações à Justiça. Uma mulher, acusada de roubo, também depôs e confirmou as denúncias do informante.

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