São Paulo, quinta-feira, 15 de setembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fracasso esportivo levou Fidel à revolução

DAVID DREW ZINGG
EM SÃO PAULO

A aula de hoje, Joãozinho, é sobre como tudo na vida converge. Como já dizia meu avô, este mundo nosso é redondo e não tem cantos.
Outra coisa que é redonda e não tem cantos é a bola de beisebol. No momento, o esporte nacional da Gringolândia está em greve. Para um norte-americano, a vida sem beisebol é como a vida sem arroz e feijão para um brasileiro.
Fidelito Castro é outro cavalheiro que tem algo a ver com o assunto cantos. Ele está atualmente metido num canto complicado, um beco sem saída. Quer você admire Fidel ou não, tem que reconhecer que ele está encantoado pela história.
Conta a lenda que, no início da década de 50, um jovem lançador promissor chamado Fidel Castro venceu uma partida experimental com um time de beisebol da Gringolândia. Ele queria ser o jogador que arremessa a bola para o sujeito que brande um pedaço de pau em direção a ela. Ou seja, queria ser o "lançador".
Fidel lançava uma bola de beisebol velocíssima, mas não possuía o talento fundamental do lançador –não conseguia fazer a bola dar uma curva em seu vôo em direção ao "batedor".
Por causa disso, Fidel foi para casa, jogou fora sua Gillete e lançou uma revolução que transformou os uniformes militares verde-oliva em grande auê da moda internacional.
"Se eu não tivesse sido atleta, não teria sido guerrilheiro", já disse El Comandante.
Mas, se ele soubesse fazer uma bola de beisebol descrever uma curva, teria provavelmente se tornado um astro do beisebol da Gringolândia. Dá para sonhar com o que mais poderia ter acontecido, Joãozinho?
Hoje, no lugar de ir a festas do partidão num velho jipe russo, ele provavelmente seria proprietário da maior revendedora de Cadillacs de Havana.
Ele certamente seria dono de um restaurante. Não, seria dono de uma cadeia de franquias de restaurantes –"Fidel's Fritos".
Se Fidel soubesse fazer a bola descrever uma curva, a Baía dos Porcos não teria acontecido e Kruschev não teria produzido a crise cubana dos mísseis. Talvez não teria havido Dallas, e John Kennedy ainda estaria conosco, fazendo o papel de ex-presidente velho e sábio.
Se Fidel Castro lançasse uma bola com curva, a rapaziada cubana frequentaria seu lucrativo acampamento de férias para aprender a jogar beisebol, em vez de aprender a construir jangadas com pneus e defender-se de ataques de tubarões.
Se Fidel lançasse uma bola com curva, ele teria ido trabalhar para a equipe dos Washington Senators. Depois, teria provavelmente se tornado empresário, como Pelé. Depois disso, ainda, teria provavelmente se transformado em senador norte-americano de verdade, da Flórida.
E depois disso, é claro, ele teria se tornado presidente do beisebol nacional da Gringolândia. Ele seria o equivalente ao que João Havelange representa para o mundo do futebol.
E, se ele dirigisse o beisebol do mesmo jeito que dirige Cuba, os jogadores trabalhariam em troca de alguns amendoins, os torcedores assistiriam aos jogos de graça e jamais haveria uma greve de jogadores de beisebol.
Felicidade conjugal
Que pena que Itamar não é casado!
Se ele fosse, poderia engrossar a dupla cômica de Fujimori e Menem, aquela que escreve roteiros conjugais que vão muito além da imaginação de qualquer bem-pago autor de novelas da TV Globo.
O Fujidrama possui todos os elementos que fariam Boni estremecer, antecipando um espetáculo de e altíssimo ibope para a telinha.
A novela presidencial peruana estreou em 1992. Susana Higuchi, a mulher de Fujimori, é uma empresária que trazia para casa a maior parte da renda familiar do casal, enquanto seu marido trabalhava como professor de matemática. Isto até sua eleição para presidente do Peru, em 1990.
Acostumada a ser o arrimo da família, ela sentiu dificuldades de adaptação quando a ascensão do paquerador Fujimori ampliou o raio de ação deste, no que diz respeito a flertes.
Foi Susana quem disparou o primeiro tiro. Ela acusou sua cunhada de vender em proveito próprio roupas enviadas do Japão para serem doadas aos pobres. Seu marido-presidente reagiu, restringindo suas aparições públicas.
Então Susana descobriu os prazeres da comunicação com a imprensa através do telefone celular. Ela se tornou a mais ilustre convidada dos programas de rádio peruanos com participação dos ouvintes. Não dá para abafar uma primeira-dama. Higuchi vem concedendo entrevistas nas quais descreve seu marido como um homem "de mau gosto" e o qualifica de "autoritário".
A frase que costuma repetir, "a democracia deve começar em casa", vem sendo repetida pelas feministas peruanas, que vêm fazendo manifestações de apoio a ela diante do palácio presidencial.
Pouco mais de um mês atrás, a rixa conjugal bateu no ventilador. Susana, 44, pediu a um juiz de Lima que mandasse seu maridinho desistir de "toda espécie de violência psicológia" contra ela.
Susana o acusou de impedir o acesso dela a seus filhos, de denegrir seu caráter publicamente, de fechar com solda as portas de seu gabinete no palácio e de privá-la de seus deveres –tudo isto por ela ter uma opinião diferente da dele.
Para fugir dos problemas, o presidente mudou-se do palácio presidencial, seguindo exemplo de seu colega argentino, Carlitos Menem.
Os dois casos possuem semelhanças fascinantes: a mulher que condena publicamente a corrupção governamental e a indiferença do governo em relação à pobreza dos cidadãos, aliando-se aos rivais do marido; o presidente que abandona o palácio por não suportar as críticas da mulher –tudo isto dá um grande assunto para uma novela.
É verdade que Fujimori ainda não se viu reduzido, como já aconteceu com Menem, a ter que convocar reuniões do gabinete para decidir qual ministro deve oferecer uma cama de hóspedes ao presidente.
Mas ainda é cedo.
Amor de verdade
Quem foi o homem mais inteligente do século, Joãozinho? Se você respondeu "Albert Einstein", provavelmente tem razão.
E aí, Joãozinho, será que os gênios vivem o amor de maneira diferente do que você ou eu?
Se você respondeu "sim" a essa pergunta, errou feio, amigão.
A física do amor funcionava da mesma maneira para o Sr. Cérebro Grande quanto funciona para as pessoas comuns e corriqueiras.
O babado todo foi revelado num livro que será lançado daqui a pouco, "Einstein, History and Other Passions" (Einstein, História e Outras Paixões).
O homem que lançou as bases da fissão atômica ainda era estudante em Zurique quando conheceu sua namorada (e posterior mulher) sérvia, Mileva Maric. Ele a chamava de sua "bonequinha" e sua "bruxinha".
As cartas retratam um Einstein apaixonado, que não conseguia viver sem sua "gatinha".
Em uma carta de amor, ele implorava a Mileva: "Venha ficar comigo em Como (Itália) e traga meu roupão azul, para que possamos nos embrulhar nele."
Sim, a fissão atômica ocorre em altas temperaturas.
Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: Simplicidade é a arma do inglês Abe Hamilton
Próximo Texto: Iole de Freitas expõe seu "Teto do Chão"
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.