São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 1994
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Governo recua e aceita acordo por empresa

LUCAS FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo recuou e decidiu se retirar das negociações entre metalúrgicos e empresários. A partir de agora, as montadoras e empresas de autopeças vão tentar acordos individuais com os grevistas.
As únicas condições do governo para se retirar das negociações são que os reajustes que venham a ser concedidos fora das datas-base não tenham periodicidade, não sejam repassados aos preços nem incorporados aos salários.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABCD, Heiguiberto Navarro, disse que encaminhará a proposta da livre negociação entre empresas e empregados à assembléia da categoria , marcada para as 15h de hoje.
A mudança de postura do governo se deu após reunião dos ministros Ciro Gomes (Fazenda), Alexandre Dupeyrat (Justiça) e Marcelo Pimentel (Trabalho), como o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Adelar Scheuer.
O governo havia barrado, no fim-de-semana passado, o encaminhamento de um acordo entre as montadoras e metalúrgicos que previa um abono correspondente a 35 horas de trabalho.
A Folha apurou que partiu do governo a proposta de se retirar das negociações com a condição de que as empresas não permitam a reindexação nem o repasse aos preços. Os aumentos devem sair das margens de lucro.
"O governo só vai interferir se convidado por nós (empresários e trabalhadores)", disse Scheuer. Para ele, cada empresa deve levar em conta sua realidade para sentar à mesa com os trabalhadores.
Antes de começar as reuniões com empresários e trabalhadores, o ministro do Trabalho, Marcelo Pimentel, disse que o governo não vai aceitar que as negociações entre metalúrgicos e empresários interfiram no Plano Real.
Segundo ele, o governo não está interferindo nas negociações entre trabalhadores e empresários. "Nosso objetivo é saber se o setor tem condições de dar abonos sem repassar para os preços", disse.
O ministro da Fazenda, Ciro Gomes, também negou que haja interferência nas negociações. "O governo está estimulando o diálogo", disse o ministro.
Scheuer afirmou que os reajustes salariais que venham a ser concedidos devem ser diferenciados entre as empresas, já que a situação financeira de cada uma também é diferente.
Após reunião com os ministros Ciro, Pimentel e Dupeyrat, o presidente do Sindipeças, Paulo Roberto Butori, disse que o setor não tem como absorver reajustes salariais sem repassar para os preços.
Scheuer evitou comentar se haverá aumento de preços nos dissídios coletivos. "Nós não podemos adiantar como ficarão os preços na data-base", afirmou ele.
A decisão do governo de se ausentar das negociações aconteceu antes mesmo da reunião dos ministros com os metalúrgicos, representados por Navarro e o presidente da Confederação dos Trabalhadores Metalúrgicos, Lúcio Antônio Bellantani.

LEIA MAIS sobre greve na pág. 1-9

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