São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 1994
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É vantagem vender o estádio do Pacaembu

ROBERTO PAULO RICHTER
ESPECIAL PARA A FOLHA

A construção do Estádio do Pacaembu, pela prefeitura –inaugurado no dia 27 de abril de 1940–, foi uma iniciativa correta e necessária.
Esporte nacional preferido e, à época, único popular, o futebol não dispunha nem sequer de equipamento do gênero na cidade. Mais de meio século se passou.
São Paulo tem, hoje, um elenco de estádios distribuídos em diferentes pontos e em diversas dimensões.
Ao mesmo tempo, o futebol se profissionalizou durante esse período. E os clubes vêm tratando a atividade futebolística sob o ângulo empresarial.
A Prefeitura de São Paulo não tem condições para acompanhar esse processo. E nem lhe compete. Sua atenção deve estar voltada para o incentivo ao esporte amador.
Vem daí a decisão do prefeito Paulo Maluf de colocar à venda a parte do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho que contém o campo de futebol, suas dependências e anexos.
Esse conjunto ocupa cerca de 45 mil, do total de 75 mil metros quadrados de área construída. A outra parte, onde fica o ginásio desportivo, permanecerá com a municipalidade.
Vejo claramente quatro vantagens na venda do Pacaembu.
A primeira é do usuário. O futuro proprietário obrigatoriamente fará reformas melhorando as instalações e os serviços existentes. Instalará outros. Além do uso para o futebol, realizará eventos lucrativos.
Situação contrária é a da prefeitura. O estádio sofrerá, neste ano, um prejuízo por volta de US$ 1,2 milhão.
A verba necessária à sua reforma e às melhorias se confunde e se perde no conjunto de obrigações da prefeitura.
Esta mantém e reforma um sem número de outras unidades desportivas espalhadas pela cidade. E que apresentam prioridade maior. Atendem estudantes, crianças e adolescentes da periferia.
O Pacaembu, nas mãos da prefeitura, corre o sério risco de deteriorar-se a curto prazo.
A segunda vantagem é do comprador. Receberá um conjunto esportivo pronto e com excepcional localização. Não há similar na cidade com a facilidade de acesso oferecida pelo Pacaembu.
O terceiro ganhador é a prefeitura: deixa de gastar dinheiro de impostos numa atividade que não é sua e para a qual não está preparada. Não dispõe de recursos suficientes para explorar todo o potencial do Pacaembu. E nem sabe administrá-lo.
No mundo inteiro, esta é missão para profissionais e para empresas.
Finalmente, o quarto beneficiado é o setor da saúde pública. O prefeito Paulo Maluf destinará o dinheiro arrecadado para implantar o Fundo Municipal de Saúde. Tal fundo será poderoso alavancador de recursos para melhorar a saúde pública do município.
As pessoas perguntam: quanto vale o Pacaembu?
Só peritos poderão dizer. E dirão seu valor para lançarmos uma concorrência nacional e internacional.
O prefeito enviará à Câmara, no momento oportuno, projeto de lei solicitando autorização para realizar a operação.
Os motivos que acabo de anotar justificam plenamente a iniciativa.
Resta lembrar que o tombamento da sua edificação art-decô será respeitado. E o público terá espaço garantido na parte restante, não vendida, no ginásio desportivo que fica atrás do estádio.

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