São Paulo, sexta-feira, 16 de setembro de 1994
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Espólios

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Vai-se tornando cada vez mais nítido o herdeiro dos suculentos espólios a serem legados pela eleição-94. Fernando Henrique Cardoso, confirmando-se nas urnas a vitória hoje desenhada nas pesquisas, ficará com os nacos mais significativos de PDT e PMDB.
No caso de Leonel Brizola, o espólio é, aliás, duplo. De um lado, o do populismo, por mais que esse fenômeno político pareça sempre em vias de extinção. FHC não tem perfil para herdar essa fatia do brizolismo, o que abre aí um buraco.
Já a outra fatia, o PDT, é de FHC por um motivo simples: os vencedores ditam os rumos. Ora, no PDT, o grande vencedor, se se confirmar seu triunfo no Paraná, será Jaime Lerner, já no colo de FHC.
Vale idêntico raciocínio para o PMDB. O maior vencedor nesse partido, até pela importância do Estado, parece que será Antônio Britto, líder nas pesquisas no Rio Grande do Sul. É outro que já está no colo de FHC.
A grande incógnita, em matéria de espólios, fica a cargo do PT. Se Luiz Inácio Lula da Silva perder mesmo, sofrerá um baque emocional maior do que a derrota eleitoral em si. Afinal, Lula tem boas chances de até dobrar o percentual de votos do primeiro turno de 1989, o que, racionalmente, é um ótimo desempenho.
Mas, na política como no futebol, ser vice (e duas vezes seguidas) é o mesmo que nada, por maior que seja o número de pontos ou votos amealhados. Se Lula quebrou animicamente após conseguir 31 milhões de votos em 89, uma segunda derrota consecutiva tende a abatê-lo mais, até porque, ao faltarem quatro meses para o pleito, havia a hipótese de ele vencer já no primeiro turno.
O futuro do PT, portanto, ficará num primeiro momento mais no terreno freudiano do que político, ofuscando o acerto interno, este sim político-ideológico.
De uma forma ou de outra, 94 gera a renovação de lideranças que deveria ter ocorrido em momentos anteriores, teoricamente mais apropriados, como a passagem do autoritarismo para a democracia, em 85, ou a primeira eleição direta presidencial, em 89. Não é pouca coisa.

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