São Paulo, sábado, 17 de setembro de 1994 |
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Problema é quem paga a conta Análise CARLOS ALBERTO SARDENBERG
As empresas ganharam no volume e na margem de lucros. Ainda que invistam boa parte, tem de sobrar algum para os salários. É verdade que os metalúrgicos já têm obtido aumentos reais. Estão entre os operários mais bem pagos do país, como lembraram membros do governo para contestar a reivindicação por novos aumentos. Mas mesmo que os salários estejam em nível razoável, não significa que não possam ser melhorados. Se todo o setor vai bem, os ganhos devem ser distribuídos. A questão é saber quem paga o aumento dos metalúrgicos. Se as montadoras pagarem com parte de seus lucros, o assunto se esgota ali entre eles. O preço não sobe, o consumidor não é afetado. O governo deixa de arrecadar imposto de renda, com a redução do lucro da montadora, mas como o salário também é taxado, a conta dá na mesma. Assim, ninguém tem razão para se intrometer. É diferente, entretanto, quando a empresa repassa para os preços o aumento salarial concedido. Aí está transferindo a conta para seu consumidor, especialmente se este não tem alternativa. Não há alternativa quando o mercado nacional é fechado à importação, de tal modo que o consumidor não tem como rejeitar o aumento de preço. Mesmo neste caso, se a manobra é realizada uma vez só, o impacto se esgota no consumidor direto. Subiu o salário do metalúrgico, depois o preço do carro,o consumidor pagou e o ciclo se fechou. Mas não se fecha quando a prática torna-se constante, como era até pouco tempo atrás. As montadoras davam a seus empregados reajuste mensal de salário, aplicavam reajuste mensal nos seus preços, e eram protegidos todos - empregados e empresas - por impostos de importação. É a regra da indexação plena de salários e preços, num setor protegido. Empresas e trabalhadores resolvem seu problema e fazem inflação para toda a sociedade. É o que esquentou o atual episódio. A verdadeira reivindicação do sindicato dos metalúrgicos é reindexar seus salários mensalmente. As montadoras estavam concordando, prometendo não repassar esse custo para os preços só até dezembro. Depois disso, deixavam claro, os preços teriam que correr atrás. E ainda pediam, montadoras e sindicato, a proteção de imposto de importação elevado. Reclamavam o retorno do pacto inflacionário, com a conta paga pelo consumidor e pela sociedade. Apesar do real, a cultura inflacionária permanece viva. Texto Anterior: Assembléia decide manter a greve no ABCD Próximo Texto: Decisão do STF congela mensalidades por 1 ano Índice |
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