São Paulo, sábado, 17 de setembro de 1994
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SP tem 13 mil presos irregulares

DANIEL CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quase um terço (30,2%) do total de presos sentenciados do Estado de São Paulo está cumprindo pena em situação irregular.
É o que revela o segundo censo penitenciário do Estado, feito em junho e divulgado anteontem. Dos 43.747 presos sentenciados, 13.211 estão confinados em cadeias públicas e distritos policiais superlotados, o que é irregular.
Para regularizar a situação desses detentos, o governo teria que construir casas de detenção e penitenciárias, que são os locais adequados para o aprisionamento de quem foi condenado pela Justiça.
O censo mostra que as 42 penitenciárias e casas de detenção do Estado também estão superlotadas. Essas unidades oferecem 24.442 vagas, mas abrigavam em junho 30.536 presos –para cada três vagas, havia quatro detentos.
A falta de vagas foi a principal causa das 15 rebeliões e 265 fugas registradas nas penitenciárias e detenções paulistas durante 93, segundo o censo.
A superlotação carcerária seria maior ainda se todos os condenados pela Justiça fossem presos.
No ano passado, a Justiça paulista determinou a prisão de 59.797 pessoas. Apenas 23.801 (40%) foram presas pela polícia.
Os números do censo indicam um déficit de pelo menos 42 mil vagas nos presídios do Estado. Essa é a diferença entre as vagas existentes e as que seriam necessárias para abrigar os presos irregulares dos distritos e os condenados que estão em liberdade –29 mil somente em 93.
Os resultados do censo paulista serão encaminhados para o Conselho Nacional de Política Penitenciária. O conselho vai juntar os dados de todos os Estados em um censo nacional. Com o levantamento, o conselho pretende propor mudanças na legislação sobre execuções penais do país.
Perfil

O número de prisioneiros das detenções e penitenciárias de São Paulo cresceu 5,1% em relação a novembro do ano passado, quando foi feito o primeiro censo. A população prisional aumentou de 29.333 pessoas para 30.536 (fora os cerca de 20 mil detidos em distritos e cadeias).
Entre novembro e junho, a mudança mais visível no perfil dos prisioneiros foi uma queda de 68% na população feminina. Em novembro, 2.855 mulheres estavam presas nas penitenciárias e detenções. Em junho, eram apenas 900.
Essa mudança tornou a população carcerária quase totalmente masculina (97%). Em novembro de 93, as mulheres representavam 10% dos presos.
Os 30.536 presos nas detenções e penitenciárias do Estado são predominantemente assaltantes: 56% foram condenados por roubos e furtos. Os condenados por assassinatos são 10% e por tráfico, 9%.
Quase metade dos presos (49%) foi condenada por ter praticado mais de um crime.
No ano passado, pelo menos 5% dos 2.210 detentos que foram libertados por indulto (perdão dado pelo governo) voltaram a cometer crimes e foram presos.
O censo revela ainda que um preso declarou imposto de renda em 94. A elite econômica é formada por 317 presos "bens de valor significativo".

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