São Paulo, sábado, 17 de setembro de 1994
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A pátria das chuteiras não tem pátria

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, taí joguinho gostoso de ver: Guarani e Vasco, encontro do bugre da terra com o senhor das conquistas.
Dois times tecnicamente bons, dois treinadores (C.A. Silva e Lazaroni) capazes de aprontar um para o outro. De quebra, na moita, o bugre pode ficar com o pontinho extra, que será providencial.
O São Paulo, com o seu melhor elenco sem o Muller e o Sierra, tenta manter a liderança diante do vacilante Atlético. E o Viola volta contra o Sport, aquele dos poetas e cronistas pernambucanos.
Enquanto o Náutico vem ao jardim suspenso para ver a força octogenária do verde das palmeiras paulistanas –nesta época, poluídas e com pouca chuva.
Um poeta do Recife talvez tenha sido o melhor cantor de um jogador do Palmeiras. Outro poeta, este de São Paulo, disse que "oi-tenta-são". E está dito.

O racismo é um dos únicos entraves da nova ordem geopolítica mundial. Alemanha, Alemanha, onde estás que não aprendes com os erros históricos?
O Borussia Dortmund até que vai bem no campeonato. O que não vai bem é o racismo, agora contra o brasileiro Júlio César. O suposto país da razão ocidental jogando na retranca da desrazão.
Não se esqueça que do "ave César" saiu o Kaiser. Mas, a César (negro) o que não é do Kaiser. Os alemães não entenderam que as chuteiras têm pátria e não têm pátria.

Agora que a oferta de futebol na TV é altíssima, dá para perceber bem a diferença de concepção das transmissões dos jogos entre europeus e brasileiros.
O europeu vê as partidas através de uma câmera mais distanciada, mais panorâmica. O brasileiro assiste a uma transmissão mais em cima do lance, mais próxima da bola, mais quente e emocional.
Qual é a melhor?
Como tudo na vida, depende do ponto de vista do espectador. Quem gosta de análise tática, de conferir o posicionamento dos jogadores, evidentemente, prefere o estilo europeu de transmissão.
Quem gosta do detalhe do lance e de observar mais o comportamento individual dos jogadores, certamente se sentirá mais contemplado com a transmissão à brasileira.
O curioso é que, nos estádios, daqui e de lá, a situação é invertida.
A arquitetura com vocação monumental dos estádios brasileiros –tal como o Maracanã e o Morumbi– tende a colocar o torcedor em um lugar mais remoto, de baixa visibilidade do jogo.
Já nos europeus (e nos latino-americanos de língua espanhola) a arquitetura, mesmo no caso dos grandes estádios, procura aproximar o espectador do campo, facilitando a legibilidade do jogo.
Enfim, de arquitetos e diretores de TV também se compõe o futebol.

O Grêmio, com seu time aguerrido e que promete dar trabalho para muita gente boa, jogou contra o Racing de meias pretas e calções brancos.
Se a regra é respeitada para os jogos internacionais, por que não para os campeonatos domésticos?
Pode-se dizer que a cor dos uniformes é um detalhe dentro de tantos problemas maiores do futebol brasileiro. Só que eu, como aquele arquiteto, acredito que Deus está nos pequenos detalhes de nós dois.

Pelo que entendi do caso Muller, jogador na Grã-Bretanha paga imposto...

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