São Paulo, sábado, 17 de setembro de 1994
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Violinista prodígio toca com orquestra holandesa

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um novo prodígio desponta na música erudita. Trata-se de Maxim Vengerov, 19, violinista nascido na Sibéria (Rússia), que, além de aclamado por público e críticos, vem sendo disputado pelas melhores orquestras da Europa.
Vengerov se apresentará no Teatro Municipal de São Paulo amanhã e segunda, como solista da Orquestra Concertgebouw de Amsterdã, sob regência de Riccardo Chailly.
Com vários discos gravados, ele deve lançar em outubro um novo CD, com os concertos nº 1 de Shostakovich e Prokofiev (selo Teldec Classics). A regência será de Rostropovich.
Atualmente morando em Londres, Vengerov costuma se apresentar com as orquestras Filarmônica de Berlim e a Concertgebouw de Amsterdã, que foi a primeira com a qual trabalhou quando se mudou para o Ocidente.
Cultivando aparência de artista pop, ele acha que sua interpretação depende do diálogo abstrato e impalpável que estabelece com cada público.
Vengerov utiliza em suas apresentações um violino Stradivarius "Le Reynier", de 1727, cedido pela empresa Louis Vuitton.
"Música é uma forma suprema de arte, junto com a poesia e o balé. Quero que minhas interpretações sejam claras, de maneira que o público possa compreender o que toco", diz o violinista.
Folha - É fácil ser célebre aos 19 anos?
Maxim Vengerov - Às vezes é problemático, mas é interessante viver essa condição porque me permite conhecer muita gente, tocar com grandes maestros, atingir grande público.
Folha - É verdade que você gosta de estudar filosofia?
Vengerov - Como a música, filosofia fez parte de minha educação. Ainda pretendo estudar filosofia na Universidade de Cambridge. Acho que um músico também pode ter um pouco de filósofo, uma qualidade que convive com a música.
Folha - Como você vem escolhendo o repertório de seus discos?
Vengerov - Sempre penso no público quando escolho meu repertório, que também depende do projeto em que estou envolvido e do maestro com o qual vou gravar.
Na maior parte das vezes, tenho tocado peças do período clássico. Mas também me interesso por jazz, cujo repertório quero explorar. Acho que é possível combinar o clássico a um repertório popular.
Folha - Você tem preferência por algum compositor contemporâneo?
Vengerov - Gosto de Gidon Kremer como compositor e violinista.
Folha - Você tem um plano especial para sua carreira?
Vengerov - Acho que não estarei muito diferente daqui a 20 anos. Continuarei tocando, quem sabe esteja compondo para mim mesmo e, acima de tudo, permanecerei estudando.
Folha - O que você gosta de fazer além da música?
Vengerov - Gosto de praticar esportes, ler e frequentar galerias de arte.
Folha - Quais as mudanças que o Ocidente trouxe para você?
Vengerov - O Ocidente mudou minha atitude não só perante a música, mas também diante da vida. Estou em busca de contatos neste mundo, não só com músicos, mas com artistas, personalidades. Foi o que o Ocidente me proporcionou de melhor.
Folha - O que você acha das condições artísticas da Rússia hoje?
Vengerov - A arte na Rússia não está no seu mais alto nível agora. A tradição russa é fascinante. Tivemos grandes músicos e professores, mas muitos abandonaram o país. Ainda se faz boa música na Rússia, mas, mais por problemas financeiros do que artísticos, o país já não é mais um dos centros do mundo, como costumava ser em termos musicais.

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