São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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PFL aciona Sarney para cercar FHC

TALES FARIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O PFL, o PTB e o grupo ligado ao ex-presidente José Sarney estão articulando uma operação de cerco ao PSDB no Congresso para evitar que, caso Fernando Henrique Cardoso seja eleito, os tucanos tentem governar sozinhos ou busquem alianças à esquerda.
Os dois partidos formam com o PSDB a coligaçção que apóia a candidatura FHC a presidente.
Senador pelo PMDB do Amapá, Sarney é hoje o candidato predileto do PFL a presidente do Senado na próxima legislatura.
Ele é amigo e aliado do ex-governador da Bahia Antônio Carlos Magalhães e considerado da confiança da cúpula pefelista.
A preocupação dos aliados de FHC se justifica. Os tucanos não escondem que o candidato prefere um ministério mais profissionalizado. Alguns nomes despontam na bolsa de apostas (veja nomes nesta página).
O fator Sarney
Os pefelistas acreditam que, com Sarney presidindo o Senado, terão assegurado o controle do Congresso.
Eles pretendem eleger o filho de ACM, o deputado Luís Eduardo Magalhães, para presidente da Câmara, embora ele seja considerado um forte ministeriável.
Caso Sarney não se eleja presidente do Senado, o comando do PFL já informou ao presidente do PTB, senador José Eduardo Andrade Vieira (PR), que tende a apoiá-lo para o cargo.
"Com você presidindo a Câmara e eu o Senado é que poderemos tornar efetiva no governo a coligação PFL-PTB-PSDB", disse Andrade Vieira ao filho de ACM na conversa em que ficou acertada a aproximação.
Os três partidos já dão como certa a vitória de FHC e começaram a trabalhar seus cenários pós-eleitorais. Todos resultam num futuro embate.
Os dois princiapis cenários partem da hipótese de que FHC vencerá já no primeiro turno.
Os tucanos mais íntimos do candidato apostam que ele montará um ministério de notáveis, forçando o PFL e o PTB a lhe dar sustentação num governo marcado pela social-democracia.
Outras hipóteses
Outro cenário em caso de vitória supõe que FHC será obrigado a formar uma grande aliança de centro para governar, reunindo PSDB, PFL, PTB, PP, PL e parte do PMDB e do PDT.
O PT estaria afastado. Mas o temor dos atuais aliados de FHC é que, nesse caso, os tucanos tentem inchar o PSDB e se tornar hegemônicos no Congresso.
O terceiro cenário é o que os tucanos mais temem: FHC poderia ser obrigado a disputar o segundo turno com Luiz Inácio Lula da Silva. Nesse caso, teria de se render não só ao PFL e ao PTB, mas também à troca de cargos com o chamado baixo-clero dos demais partidos.
Juras
"Não tenho preocupações. Acho que teremos um excelente convívio", afirma o pefelista Marco Maciel, candidato a vice de FHC. "Eu aprendi a respeitar muito o Marco Maciel na campanha. Ele sabe trabalhar", afirma Sérgio Motta, secretário-geral do partido.
"Teremos um relacionamento muito bom", completa ACM. O ex-governador não esconde que há diferenças: "Acredito que é até do interesse de FHC que eu haja com independência de crítica".
Nos bastidores do comitê de campanha, no entanto, a situação é outra. Assustados, os auxiliares tucanos de FHC –como o presidente do PSDB, Pimenta da Veiga, e o próprio Sérgio Motta– já começam a torcer pela derrota do PFL nos Estados.
Os tucanos acreditam que, enfraquecido pelas urnas, o PFL teria menos cacife para cobrar espaço no eventual governo FHC. Mas a aliança com Sarney praticamente afasta, para o PFL, esse risco.
"O PSDB vai querer se assenhorar do poder, e todo mundo sabe disso. Por isso, a eleição de Sarney para presidente do Senado é fundamental", dispara o senador Gilberto Miranda (PMDB-AM), um dos envolvidos na articulação com o PFL.
Segundo Miranda, Sarney já conta com o apoio de praticamente todos os futuros senadores do Norte do país. A expectativa é que, dos prováveis 24 senadores que o PMDB elegerá, dez sejam do Norte.
Além desses, Sarney teria assegurados os votos de nomes como Iris Rezende (GO) e Mauro Benevides (CE). "Se ele não quiser presidir o Senado, fará o presidente", afirma Miranda.
Como sempre, Sarney ainda não deixou claro a ninguém se irá ou não concorrer. Nos bastidores, a cúpula do PFL aposta que sim.

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