São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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Direita sem chances, reformas urgentes

ADAM PRZEWORSKI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Na condição de estrangeiro, que conhece o país apenas de leituras e algumas visitas ocasionais, vejo o Brasil como estando à beira de um avanço histórico.
Apesar do calor da campanha eleitoral, a decisão política mais importante já foi tomada. Pela primeira vez na história do Brasil a direita não tem chances de vencer; ela simplesmente está ausente da disputa eleitoral.
Vistas à distância, as divergências entre os dois principais candidatos parecem ser pequenas: ambos estão comprometidos com a justiça social e ambos estão preocupados com a responsabilidade fiscal.
Oitenta por cento, possivelmente 90% dos brasileiros vão votar num candidato comprometido com reformas sociais.
A questão que confronta os eleitores é mais a de quem poderá melhor implementar esses compromissos assumidos do que qual dos programas escolher.
Pontos fundamentais
O Brasil é um país rico e dinâmico que nos últimos dez anos sofreu uma profunda crise econômica. Essa crise foi induzida pelas transformações da economia mundial, mas foi exacerbada pela perpetuação de uma estrutura política, de classe e fiscal arcaica.
Mas esses anos não foram perdidos: após uma série de reformas dolorosas, as empresas brasileiras estão saudáveis, a economia está preparada para a concorrência internacional, os gastos públicos foram restritos até certo ponto e o Plano Real oferece a promessa de que a inflação vá permanecer sob controle.
Assim, a maioria dos pontos qualificados pelos economistas de "fundamentais" para fazer o país voltar a desenvolver-se estão assentados.
Desigualdades
O mais importante desafio que confronta a sociedade brasileira é aliviar a pobreza amplamente difundida e mitigar as tremendas desigualdades.
Exatamente pelo fato de as desigualdades serem tão enormes, a vida dos pobres pode ser significativamente melhorada a um custo relativamente baixo para os ricos.
Um aumento de 10% nos impostos cobrados dos 20% mais ricos quase triplicaria a renda dos 20% mais pobres.
Educação e saúde
Mas a redistribuição de renda, por si só, não basta. Os resultados de pesquisas recentes mostram que educação e saúde são as chaves para o progresso econômico.
Para entrar no caminho do desenvolvimento, o país precisa fazer investimentos maciços em educação, precisa melhorar as condições de saúde dos pobres e precisa garantir a segurança física de todos seus cidadãos.
Esse desafio só poderá ser aceito elevando-se os impostos cobrados dos ricos, e impondo-se ao país inteiro uma estrutura fiscal responsável.
Hoje estão dadas as condições, tanto políticas quanto econômicas, para as reformas urgentemente necessárias e há tanto tempo devidas.
Seja quem for que vencer a eleição, terá uma chance sem precedentes de mudar o rumo da história brasileira.

Tradução de Clara Allain

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