São Paulo, domingo, 18 de setembro de 1994
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Mulheres reclamam de sexo sem beijo

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Os homens estão beijando as suas mulheres cada vez menos –inclusive, já não se preocupam mais em beijá-las nem durante o ato sexual.
A reclamação –fácil de se ouvir nas ruas, nos salões de beleza e nos banheiros femininos– aparece agora em um estudo científico, promovido pelo sexólogo Moacir Costa, autor de "Sexo, o Dilema do Homem", entre outros livros.
Nos últimos cinco anos, Costa acompanhou em sua clínica 43 casais de classe média ou alta, com idades entre 22 e 60 anos (e idade média de 35 anos).
Os casais tinham, em média, 10,5 anos de convivência sexual.
O acompanhamento terapêutico ocorreu em períodos que variaram de três meses, no mínimo, a dois anos e oito meses, no máximo.
Os pacientes procuraram o sexólogo, em dupla ou individualmente, preocupados com sintomas como perda de interesse sexual, redução de frequência ou redução de prazer –apesar de, biologicamente, não apresentarem problemas.
Costa, 51, anotou que 60% das mulheres se queixaram que não eram mais beijadas por seus parceiros, embora continuassem a manter relações sexuais.
"A ausência do beijo é um sinal de alarme, sinal de que alguma coisa vai mal na relação e aparece antes dos inevitáveis problemas sexuais", diz.
"O homem, por impulso biológico, consegue transar sem beijar. Mas, com o tempo, o impulso biológico também começa a falhar", acrescenta o terapeuta.
A conclusão de Costa pode parecer óbvia, mas merece registro: "O beijo é uma coisa mais íntima que o sexo."
Sabem disso, pelo menos, todos os que assistiram "Pretty Woman", o filme que revelou Julia Roberts no papel de uma prostituta, aquela que diz: "Faço tudo, menos beijar na boca."
A iniciação sexual de garotos com prostitutas seria, assim, segundo o raciocínio de Costa, uma das razões que levam os homens a beijar menos do que as mulheres.
"O machão costuma dizer para o filho que gosta de beijar: 'Isso é coisa de mulher'. Dessa forma, o homem não aprende a valorizar o beijo. Ao contrário", diz Costa.
Todas as dez mulheres entrevistadas para esta reportagem também buscam num "problema cultural" qualquer, como o machismo, a explicação para esse fenômeno.
"Os homens são mais durões e acham que o beijo seria uma coisa mais feminina. Acho certo isso ser visto assim", diz, por exemplo, a comerciante Maria Alessandra Albuquerque Lima, 48, casada há 26 e mãe de três filhas.
As mulheres tendem, também, a se enxergar como mais "sensíveis" ou "verdadeiras" que os homens –o que ajudaria a explicar a volúpia oscular feminina.
"Beijo, para a mulher, é uma coisa super-honesta. Quando beijo, beijo por inteiro. Os homens beijam sem essa mesma honestidade", diz a vendedora Rosângela Martins, 32, solteira.
"Beijo é sinônimo de namoro. Aos 40, 45 anos, isso sai do script do homem e ele passa a ver o beijo como 'coisa de jovem', manifestação de adolescentes", conclui Moacir Costa.
LEIA MAIS Sobre beijos na pág. 3

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