São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

A hora da cobrança

LUÍS NASSIF

Se as eleições presidenciais forem efetivamente decididas no primeiro turno, no dia 4 de outubro começa a grande cobrança em cima desses levianos que atrasaram em vários anos o ajuste da economia, para beneficiar-se eleitoralmente do cargo.
Desde o período Marcílio tinha-se um processo de reconstrução institucional em marcha, que foi aprofundado por Paulo Haddad.
O ajuste dos bancos estaduais estava encaminhado, as dívidas do setor elétrico equacionadas. Previdência e Saúde vinham relativamente equilibradas, enquanto se aguardavam as reformas constitucionais que viabilizassem as soluções definitivas. Já haviam sido negociadas as dívidas do setor público com os fundos sociais, e reduzira-se sensivelmente o peso da folha do funcionalismo público.
Além disso, havia uma agenda de reconstrução na pauta, delineada desde o emendão do fim do governo Collor.
Interesses políticos
Voltou tudo à estaca zero, para atender aos interesses individuais dos ministros políticos de Itamar.
Abrandaram-se as exigências de ajuste dos bancos estaduais para não comprometer futuras alianças partidárias de FHC. Quebrou-se criminosamente a Previdência e a Saúde, para garantir a eleição de Antônio Britto para o governo gaúcho.
A folha de pagamentos do funcionalismo direto, que estava em US$ 10 bilhões anuais no início do governo Itamar, voltou a níveis de US$ 20 bilhões, por conta de um presidente pusilânime.
Interromperam-se as Câmaras Setoriais, porque não interessava eleitoralmente ao plano. O acerto de contas do setor elétrico voltou à estaca zero, reinaugurando a ciranda do calote entre empresas estaduais e federais.
As propostas de mudança na legislação trabalhista foram interrompidas, para que o Ministro do Trabalho, Walter Barelli, pudesse se candidatar a vice-governador de São Paulo.
O mesmo Barelli levianamente comprometeu uma enorme luta visando permitir que as ações de estatais se constituíssem em patrimônio dos trabalhadores do FGTS, ao tentar utilizar o processo politicamente, transformando a CUT em controladora de empresas.
Nova divisão
A velha divisão entre fisiológicos e éticos, moldada na campanha contra a ditadura, precisa urgentemente ser revista.
Qual a diferença efetiva entre Humberto Lucena e Antônio Britto? Quem é mais nocivo? O que gasta tinta do Senado ou o que provocou um genocídio na saúde para financiar sua carreira eleitoral?
Há a necessidade de grande clareza a respeito desse assunto, para que a partir de 4 de outubro a Nação comece a cobrar a conta desses irresponsáveis, exigindo as reformas que foram interrompidas, inclusive para que não se consuma mais um estelionato eleitoral.

Texto Anterior: FHC e as câmaras setoriais
Próximo Texto: Qualidade total volta a ser discutida
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.