São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 1994
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Países discutem educação sexual para adolescentes de todo o mundo

HÉLIO SCHWARTSMAN
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

Mais de 170 países estiveram reunidos nas duas últimas semanas no Cairo (capital do Egito) para discutir o futuro do planeta. Foi a terceira Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento.
A população do mundo é estimada hoje em 5,6 bilhões de pessoas. Nos próximos 20 anos serão entre 7,1 bilhões e 7,8 bilhões. No ano 2050, as projeções indicam algo entre 7,9 bilhões e 11,9 bilhões.
É difícil dizer qual é o número de pessoas que o planeta é capaz de suportar. Sabe-se, contudo, que a Terra já dá sinais de desgaste: buraco na camada de ozônio e efeito estufa. Esse quadro fica ainda mais assustador quando se recorda que foi apenas no século passado que a população superou a cifra de 1 bilhão.
No Cairo, concluiu-se que os jovens têm muito a ver com todo esse quadro. Nas regiões menos desenvolvidas do planeta, o número de pessoas com menos de 15 anos está em torno de 36%. Esses jovens evidentemente se reproduzem.
Todo o plano de ação aprovado no Cairo visa a diminuição das taxas de crescimento populacional de maneira que os direitos dos indivíduos não sejam sacrificados. A idéia é incentivar as pessoas a terem menos filhos, sem, entretanto, forçá-las a isso.
A única maneira de atingir essa meta é através da educação. Quando as pessoas, principalmente as mulheres, sabem como evitar filhos, fazem-no espontaneamente, mesmo nas regiões mais pobres do planeta.
Nesse ponto o projeto de documento que foi debatido no Cairo era bastante claro. Considerava fundamental que aulas de educação sexual e serviços de prevenção de gravidez e de doenças sexualmente transmissíveis, inclusive a Aids, fossem fornecidos a jovens e adolescentes, com garantia de sigilo.
O texto, porém, não foi aprovado tal qual estava. Se, mesmo no Brasil, essa tese pode gerar polêmica, no mundo islâmico ela pode causar escândalo. Para os muçulmanos, qualquer relação sexual fora do casamento é considerada pecaminosa.
Assim, numa espécie de casamento de conveniência com países mais tradicionalmente católicos, como o Vaticano e diversos países da América Latina (o Brasil excluído), as nações islâmicas conseguiram incluir na versão final do documento uma referência à importância dos pais na educação sexual. Na visão dos países mais liberais, essa referência enfraquece um pouco o documento.
Desde a semana passada, há um documento que diz que as nações devem dedicar recursos à educação sexual sexual para jovens e fornecer-lhes meios de prevenção de gravidez e doenças. A grande questão agora é saber como cada país vai interpretar essas diretrizes.
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Sobre a Conferência do Cairo na página 3.

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