São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 1994
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Centro Cultural põe o curta em discussão

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Evento: Curta-Metragem em Debate
Quando: de amanhã a domingo
Local: Centro Cultural São Paulo/sala Lima Barreto (r. Vergueiro, 1.000, tel. 011/277-3611, Paraíso, região central)

Amanhã, a partir de 16h, quando começa a projeção do primeiro programa, o Centro Cultural São Paulo tira do MIS, temporariamente, a condição de templo máximo do curta-metragem em São Paulo.
Nada menos do que 97 filmes serão exibidos em seis dias. Cada dia se fecha com a exibição de um filme, às 20h, seguida de um debate (exceto no dia 25, domingo; aí, o debate está programado para as 20h).
É uma enorme retrospectiva, com filmes feitos entre 1965 e 1994. Alguns são quase raridades feitas por cineastas que passaram já nos anos 70 para o longa (casos de "Olho por Olho", de Andrea Tonacci, e "Esta Rua Tão Augusta", de Carlos Reichenbach).
Será possível ver filmes de realizadores que fizeram apenas um longa, como Walter Rogério (de "A Voz do Brasil"), Suzana Amaral ("Eu Sou Você, Nós Somos Eles"), mas se saíram brilhantemente. Dois diretores centrais da geração dos anos 80 morreram prematuramente, antes de mostrarem inteiramente o que poderiam ter feito no longa. São Wilson Barros ("Tigresa") e Chico Botelho ("Gare do Infinito").
Certos cineastas já começam a desenvolver um trabalho contínuo no longa, como Sergio Bianchi, de "Divina Previdência", e André Klotzel ("Eva"). Até mesmo um nome clássico, Roberto Santos, está presente na programação, com "A João Guimarães Rosa", em parceria com Marcelo Tassara.
Mas tudo isso poderia figurar na categoria das curiosidades. Assim como João Batista de Andrade, Ana Carolina e outros, eles já demonstraram o que podem e o que não podem no registro do longa.
A parte mais significativa da programação diz respeito àqueles que não tiveram, ainda, uma chance no longa. É onde o evento mostra sua face política. Desse grupo fazem parte Joel Pizzini ("Caramujo Flor"), Jorge Furtado ("Esta Não É Sua Vida"), Regina Rhedá ("Folguedos no Firmamento") e A.S. Cecílio Neto ("Wholes").
Pelo menos esses realizadores já provaram merecer uma chance de mostrar o que têm a dizer no longa. Eventualmente, desenvolveram sua carreira à margem do cinema comercial (como Arthur Omar, de "Vocês", e Jairo Ferreira, de "O Guru e os Guris").
Por fim, o evento dá oportunidade de analisar um movimento coerente de filmes curtos dos anos 70 (o Cinema de Rua) e de apreciar trabalhos de realizadores para quem a direção foi uma experiência subsidiária em suas carreiras, como o produtor Thomas Farkas ("Hermeto Campeão"), o diretor de filmes publicitários Roman Stulbach ("Por Exemplo, Butantã"), o ex-diretor da Embrafilme e da Cinemateca Brasileira Carlos Augusto Calil ("A Hora do Diabo").
As discussões sobre o cinema de curta-metragem (e, mais genericamente, o cinema brasileiro) começam amanhã, com Suzana Amaral, Carlos Augusto Calil e Jean Claude Bernadet.

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