São Paulo, segunda-feira, 19 de setembro de 1994
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FHC-Munhoz, a escolha coerente

MARCOS CINTRA

"São extremados os que acreditam que toda a virtude se concentra em seu próprio partido; esquecem que o exagero destrói o Estado"
(Aristóteles, "Política")

Embora os próximos quatro anos devam marcar um dos mais importantes períodos de nossa história política e econômica, a atual campanha eleitoral demorou para empolgar a opinião pública.
No cenário nacional, o próximo Congresso e o novo presidente da República terão, quiçá, a derradeira oportunidade de estabilizar a economia do país e reencetar um processo de crescimento econômico auto-sustentado.
Também a nível estadual, e no contexto de uma imprescindível reforma fiscal, o próximo mandato será decisivo na gestação de um novo modelo político-administrativo.
Hoje, as grandes estrelas da sucessão em São Paulo e no Brasil são do PSDB, Covas e Fernando Henrique. Mas o time a entrar em campo pode ser outro.
Os tucanos já foram considerados politicamente inábeis e indecisos. Mas nunca tiveram de enfrentar desafios significativos em seus princípios éticos e morais, ou em sua retidão de propósitos. Isto mudou, com as desastradas declarações do ex-ministro da Fazenda, Rubens Ricupero.
Mas, neste caso, a culpa foi prontamente reconhecida, novo ministro foi indicado pelo partido e empossado pelo governo. Os prejuízos eleitorais foram limitados. A candidatura de Fernando Henrique Cardoso continua sólida, já que as declarações do ex-ministro não envolvem diretamente o candidato, nem a equipe responsável por sua campanha.
Ficou, também, evidente que Fernando Henrique ultrapassou a área de abrangência definida por limites partidários, tornando-se um candidato capaz de absorver apoios de diferentes segmentos do quadro político brasileiro.
No campo econômico, o andamento do Plano Real não sofreu abalos em seu ritmo de exemplar sucesso e credibilidade. A equipe econômica continua a mesma, e o governo dispõe de instrumentos de controle e monitoramento para conduzir o plano até que o novo governo adote as medidas essenciais para a sustentação permanente do programa.
Mais sérias são as acusações surgidas em São Paulo, que apontam irregularidades financeiras na vida política e na campanha do candidato Mário Covas. Os fatos ainda são nebulosos e, curiosamente, nem a imprensa, nem a opinião pública, estão a exigir explicações mais detalhadas de acusadores ou de acusados, embora se trate de insinuações graves acerca do comportamento do candidato e de seus assessores pessoais.
Assim, não se pode descartar algum desgaste da candidatura Covas e o crescimento de um opositor que chegará ao segundo turno. Com certeza, será Barros Munhoz, impulsionado não apenas pelo amplo arco de alianças políticas que o sustenta, mas, principalmente, por suas qualidades pessoais, que o eleitorado começa a identificar por meio de sua maior exposição à mídia.
Barros Munhoz surge como um candidato afinado com a visão de mundo de Fernando Henrique Cardoso. Ambos buscam soluções criativas e corajosas para os angustiantes problemas nacionais. Ambos cercam-se de assessorias competentes e inovadoras, ampliando o leque de apoios com os quais governarão.
Ambos irradiam uma sensação de renovação e de esperança, embora se encontrem cercados de velhos problemas, e, por maior que seja a inutilidade, assediados por sobreviventes do arcaísmo político que sempre marcou o país.
O Brasil não pode mais suportar um setor público ineficiente e corporativista. É preciso evitar o desperdício de novas oportunidades para transformações estruturais da economia brasileira, como, infelizmente, ocorreu na Constituinte em 1988 e em sua fracassada revisão em 1993-94.
Nestas duas ocasiões, venceram as lideranças políticas rançosas, marcadas pela inércia, pelo paternalismo e pelo corporativismo.
A dupla Fernando Henrique e Barros Munhoz mostra ser capaz de alavancar as potencialidades do Estado e do país. É a que mostra maior compatibilidade de propósitos e de concepções acerca da construção de uma nação moderna, dinâmica, e na qual o foco incidirá sobre o cidadão.
Em ambas as administrações pode-se prever o crescimento das áreas de saúde, educação e agricultura como instrumentos de formação do capital humano. A desburocratização, a privatização, a reforma tributária e a descentralização se farão presentes, despertando o setor privado da apatia em que se encontra.
FHC e Munhoz complementam-se para que São Paulo possa liderar um processo multiplicador de riqueza e desenvolvimento por todo o país.

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