São Paulo, quarta-feira, 21 de setembro de 1994 |
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Leia o relato do comerciante
MARCELO GODOY Abaixo, seis casos de extorsão, roubo e corrupção relatados por Zezinho do Ouro.CARIOCA "Houve um assalto em um relojoaria em 80 na rua Pamplona (Jardins) e os ladrões me procuraram para vender as jóias. Servi de intermediário para um argentino comprar oito quilos de ouro e brilhantes. Um mês depois, o delegado Carlos Alberto Costa, o Carioca, que hoje (deixou o cargo ontem) é o diretor do Deic, me disse que havia prendido os ladrões. Liguei para o argentino e foi marcado um encontro com o advogado dele, Armando Bastos Celso Peroba, que intermediou o acerto. O Carioca e 11 investigadores receberam na minha casa Cr$ 500 mil –dava para comprar dois Corcéis 2 zero-quilômetro. Só que o Carioca havia blefado. Ele não havia prendido os ladrões. Dois meses depois, os assaltantes foram pegos pelo delegado Natanael da Silva Abreu e pelos investigadores Bira e Aldo, do 13º DP. Os policiais do 13º DP me procuraram. Disse a eles que tudo já havia sido acertado com o Carioca. Eles ligaram para o advogado e para o Carioca, que recolheram CR$ 280 mil e deram ao 13º DP." GOLPE NO CARIOCA "Há três anos, foram roubados 12 quilos de ouro no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (SP). Durante o inquérito, o investigador Gilberto Xavier de Brito descobriu um dos ladrões. O Gilberto estava na Delegacia de Falsos Domésticas com o delegado Justino Ramos de Matos Junior. Através do ladrão, souberam que o ouro estava com um policial. Um investigador, que estava detido no presídio da Polícia Civil, saía de manhã, assaltava à tarde e voltava à noite para a prisão. O delegado escondeu essa descoberta. Houve um acerto. O policial preso ficou com dois quilos do ouro. Os outros dez quilos foram para o Gilberto e o Justino. Uma parte do ouro deveria ter sido dada pelo Justino ao Carioca. Mas o Justino passou para trás o Carioca e viajou para Miami (EUA). Por isso, o Carioca transferiu ele do Deic. O ouro valia US$ 400 mil." CAIXINHA DO SEGURO "Em 87, o delegado João Violim Belão (ex-chefe da Divisão de Crimes Fazendários) estava na Delegacia de Falsos Domésticos. Entreguei a ele os ladrões de uma carga de roupas da Riachuelo. A carga estava em um depósito no Tatuapé (zona leste). Os ladrões que a roubaram foram o Paraíba e o Miguel. O assalto foi no Paraná. Fui procurado pelos ladrões para comprar a carga. Fomos eu, o Violim, e os investigadores Gilberto Brito, Euripedes Tozzo, Mauro, Marcão e o Adner. Prenderam todos e apreenderam a mercadoria. Eles desviaram quatro toneladas da carga. Quatro Kombis foram para o Deic. Só isso foi devolvido para a Riachuelo. Os policiais receberam ainda um prêmio da companhia de seguros de 10% do valor da carga devolvida. As seguradoras pagam prêmios quando uma carga é apreendida." CARGA DA CCE "Em 88, um grupo de ladrões roubou aparelhos de som do depósito da CCE da marginal Tietê. Novamente, me procuraram para comprar essa carga. Avisei o delegado Violim e os investigadores Tozzo e Gilberto. Atraí os ladrões para a avenida do Estado, onde foram presos. Os policiais levaram a carga para um galpão no Ipiranga (zona sul). Alugaram dois caminhões para desviar 1.200 aparelhos. Esconderam tudo no Cambuci (centro). Venderam a mercadoria no dia da eleição da Erundina. Depois, levaram para o Deic 638 aparelhos. Só que eles precisavam explicar o sumiço dos outros aparelhos. Foram até a praça da Sé e pegaram um plaqueiro, desses que compram ouro, o Valdeci. Deram Cr$ 70 mil para ele assumir que havia comprado os aparelhos sumidos. Hoje, o Valdeci é um mendigo na praça da Sé. O delegado Violim recebeu Cr$ 180 milhões pelos aparelhos." CRISTAIS "Há seis meses, um informante meu me procurou e disse que havia duas cargas de tecidos roubados em uma agência de automóveis na avenida Pires do Rio (zona leste). Eu, os investigadores Gilberto Brito e Adner e os delegados Eduardo Gobbetti e Aílton Bicudo fomos à agência. Lá, havia 25 caixas de cristais (cinzeiros e vasos) que vieram de Santa Catarina para o Mappin. O dono da agência vendeu três carros e pagou para não ser preso. Parte da carga foi vendida pelos policiais. Uma outra parte foi dada de presente para outros delegados. Receberam o presente os delegados Natanael da Silva Abreu, Mário Tadeu Paes, e o tio do Eduardo Gobbetti, o delegado Cláudio Gobbetti." CHINÊS "Os investigadores Gilberto Brito e Carlos Brunetti e os delegados Aílton Bicudo e Eduardo Gobbetti estavam no 28º DP em 93. Os policiais receberam a informação que um contrabandista chinês ia sair do apartamento em Pinheiros e iria para o aeroporto de Viracopos, em Campinas. Ele foi preso. Havia US$ 1 milhão na mala do chinês. Ele ficou só uma hora e meia na delegacia. Não teve inquérito. Os policiais levaram o chinês ao aeroporto. Dois dias depois, o Eduardo Gobbetti comprou um Omega Suprema, o Bicudo, um Logus, o Gilberto, um Escort XR-3 e o Brunetti, um Santana Quantum." Texto Anterior: MinC anuncia escritores que vão a Frankfurt Próximo Texto: Esporte reduz risco de câncer de mama Índice |
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